Essa afirmação pode parecer difícil para aqueles que acreditam que o amor de Deus une a todos e, por isso, o mundo o aceitaria. No entanto, quando vivemos no verdadeiro amor de Deus e na verdade do evangelho, percebemos que aqueles que não compartilham da fé cristã tendem a nos rejeitar. Essa rejeição não ocorre de forma externa apenas, mas é sentida no convívio diário.
Muitos recém-convertidos notam que
seus amigos ou círculo social começam a tratá-los com indiferença, desprezo ou
até mesmo deboche pelo fato de terem aceitado Jesus como Senhor de suas vidas.
Contudo, essa experiência não é exclusiva de alguns cristãos, mas algo que
todos enfrentam em algum momento, pois aqueles que vivem distantes da verdade
tendem a rejeitar aqueles que pertencem a Cristo.
Jesus já nos alertava sobre isso:
"Se o mundo vos odeia, sabei
que, primeiro do que a vós, me odiou a mim" (João 15:18-20).
O apóstolo João também reforça essa
realidade: "Não vos maravilheis, irmãos, se o mundo
vos odeia" (1 João 3:13).
O próprio Cristo foi rejeitado, e não
falo do fato de terem “cancelado” ele, não me refiro a rejeição que fizeram ao
condenarem a cruz, falo da rejeição que teve até por sua própria família e
conterrâneos (Marcos 6:1-6, Marcos 3:21, João 7:5). Portanto, essa rejeição que sofremos não deve nos
surpreender, mas sim nos fortalecer na fé, pois é um sinal de que seguimos os
passos de Cristo.
A luz incomoda as trevas
A vida de quem segue a Cristo muitas
vezes expõe o pecado dos outros, o que pode causar desconforto. Aquele que vive
na mentira foge da luz para que ela não revele o mal que pratica; já aqueles
que vivem na verdade procuram a luz para que seja visto claramente que suas
ações são feitas de acordo com a vontade de Deus (João
3:19-21).
Quando um crente vive conforme a
Palavra, aqueles que não querem mudar se afastam, debocham e o insultam (1 Pedro 4:3-4).
O exemplo de Noé deixa isso claro:
ele viveu praticamente sem amigos ou parentes, contando apenas com sua família,
pois o mundo se afastava dele. Isso não significa que Noé se afastava do mundo,
pois ele pregava sobre a justiça de Deus, mas ninguém além de sua família o
ouviu (2 Pedro 2:5).
Jesus avisou que sua vinda seria em
um momento em que o mundo estivesse vivendo como nos dias de Noé (Mateus 24:37-39). Portanto, não devemos nos desanimar se estivermos na contramão do
que o mundo pratica, mas, sim, permanecer esperançosos, pois estamos no caminho
correto, assim como Noé estava.
Sua fé e obediência a Deus o
separaram do mundo.
Isso não significa que devemos morar
no mato, isolados de todos, ou que não devemos mais receber visitas e visitar
nossos parentes. Pelo contrário, não devemos nos isolar. Mesmo enfrentando
rejeição, somos chamados a amar e testemunhar (Mateus
5:14-16).
O apóstolo Paulo procurava estar com
todos, não se comportando pecaminosamente, mas adaptando-se, no que dizia
respeito à fé, àqueles que estavam ao seu redor, sem comprometer sua fidelidade
a Deus:
“Fiz-me fraco para
com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o
fim de, por todos os modos, salvar alguns.” (1 Coríntios 9:22 RA).
Paulo não estava sugerindo que se
comportava de maneira pecaminosa ou hipócrita para agradar diferentes grupos de
pessoas. Pelo contrário, ele se adaptava culturalmente a cada contexto para
facilitar a pregação do evangelho, sem comprometer sua fé ou seus princípios
cristãos.
Com os judeus – Ele seguia costumes judaicos para não
causar escândalo entre eles, como vemos em Atos 16:3, onde circuncidou Timóteo para facilitar a pregação entre os
judeus. Também em Atos 21:23-26, ele participou
de um ritual no templo para mostrar respeito à Lei.
Com os gentios – Ele não os obrigava a seguir
tradições judaicas, como vemos em Gálatas 2:3-5. Em Atos 17:22-31, no
discurso em Atenas, Paulo usa referências culturais e filosóficas gregas para
apresentar o evangelho.
Com os fracos na fé – Ele evitava fazer algo que
escandalizasse aqueles que tinham uma consciência mais sensível, como em 1
Coríntios 8:13, onde diz que, se comer carne levasse
alguém a tropeçar, ele preferia nunca mais comer carne.
Nesse mesmo contexto, quando
estivermos reunidos com parentes e amigos que não são cristãos, podemos agir da
seguinte forma:
I-
Manter o Respeito e o Amor
Mesmo que tenham valores ou
comportamentos diferentes, é importante evitar julgamentos severos e agir com
paciência e compaixão (Colossenses 4:5-6).
II-
Evitar Polêmicas Desnecessárias
Nem toda conversa precisa virar um
debate sobre fé. Paulo sabia quando era o momento certo de falar e quando era
melhor apenas demonstrar o evangelho pelo comportamento (1 Tessalonicenses 4:11-12). Se surgirem
discussões sobre religião, devemos falar com sabedoria e mansidão, sem tentar
impor nossa fé (2 Timóteo 2:24-25).
III- Participar do Convívio Sem Comprometer a
Fé
Assim como Paulo participava dos
costumes judaicos sem abrir mão da verdade do evangelho, nós também podemos
participar de eventos familiares, festas ou encontros sem nos envolvermos em
práticas que vão contra nossa fé. Por exemplo, estar presente em um almoço de
família é algo positivo, mas isso não significa que devemos participar de
conversas ou comportamentos que desagradam a Deus.
IV-
Ser Exemplo Através das Atitudes
O testemunho cristão no dia a dia
fala mais alto do que palavras. Se a família vê paciência, bondade, humildade e
honestidade em nossa vida, isso causa impacto (Mateus
5:16). Pequenas atitudes, como ajudar em casa, demonstrar gratidão e ser
paciente em momentos de conflito, podem ser formas eficazes de evangelismo.
V-
Saber Quando Falar do Evangelho
Paulo sabia adaptar sua abordagem
para cada grupo, e isso também se aplica ao falar de Cristo para familiares.
Algumas pessoas podem estar abertas a ouvir sobre Deus, enquanto outras
rejeitam de imediato. Orar por discernimento e aguardar o momento certo é
essencial (1 Pedro 3:15).
VI-
Não Ter Medo de Ser Diferente
Paulo se adaptava culturalmente para
alcançar as pessoas, mas nunca comprometia sua fé. Da mesma forma, ao conviver
com parentes não cristãos, podemos ser amigáveis e participativos sem sentir a
necessidade de agir como eles para sermos aceitos. Muitas vezes, isso significa
recusar certas conversas, comportamentos ou práticas que vão contra
os princípios bíblicos, mesmo que isso nos torne diferentes. Permanecer
firme na fé, com amor e respeito, é um testemunho poderoso e pode até despertar
o interesse dos outros pelo evangelho.
Uma nova família na FÉ
Ainda que alguns se afastem, Deus nos
dá uma nova família na fé (Marcos 10:29-30). Por isso, é importante termos comunhão não apenas com aqueles que
não são cristãos, mas, principalmente, com a verdadeira família na fé, com
aqueles que verdadeiramente são nossos irmãos e irmãs (Hebreus 10:24-25).
O desafio de perseverar
Não devemos nos conformar ao mundo
para sermos aceitos (Romanos 12:2). O mundo pode nos pressionar a seguir suas normas, suas práticas e
suas ideias, mas, como cristãos, somos chamados a viver de acordo com os
padrões de Deus, que muitas vezes estão em desacordo com o que o mundo
considera normal. Não devemos abrir mão de nossa fé ou de nossos valores para
agradar aqueles que ainda vivem na mentira, pois, ao fazê-lo, comprometemos
nosso testemunho e nossa integridade espiritual.
A aprovação de Deus deve ser nossa
maior prioridade, pois sua aceitação é eterna e verdadeira, enquanto a
aprovação dos homens é temporária e superficial (Gálatas 1:10). Somos chamados a agradar a Deus, não aos homens, sabendo que, ao
buscarmos a Sua vontade, Ele nos conduzirá ao melhor caminho, mesmo que isso
nos coloque em desacordo com o mundo ao nosso redor.
A jornada cristã, muitas vezes,
envolve rejeição e desafios, como Jesus e os apóstolos experimentaram. No
entanto, devemos permanecer firmes na fé, como Noé, sabendo que estamos no
caminho certo, mesmo quando estamos em desacordo com o mundo. Somos chamados a
ser luz sem nos isolarmos, demonstrando o amor de Cristo em nossas atitudes,
como Paulo fez. A aprovação de Deus deve ser nossa prioridade, pois Ele nos
oferece uma nova família na fé, que nos fortalece. Não devemos nos conformar
aos padrões do mundo, mas seguir a vontade de Deus, com confiança de que Sua
recompensa é eterna.