Este estudo aborda um ponto chave: a individualidade da responsabilidade de cada um perante Deus. Por mais que possamos acreditar que alguma bênção ou maldição pode ser passada de geração para geração, assim como civilizações bíblicas antigas acreditavam, cada um é responsável pela sua própria salvação. A decisão de seguir ou não a Deus vem de cada indivíduo.
É verdade que uma criança muito bem assistida sobre quem é Deus terá
maior facilidade de seguir o mesmo caminho de seus pais e não se desviar dele
mesmo quando for velha, mas isso não é uma garantia. Este mandamento dado aos
pais não assegura que os filhos seguirão a mesma fé. Neste estudo, abordaremos
temas como responsabilidade individual diante de Deus, o impacto das escolhas
dos pais sobre os filhos e exemplos bíblicos de famílias em que a fé foi um
elemento central.
1.
Ensinar o Caminho do Senhor aos Filhos
Em Provérbios 22:6, a Bíblia instrui:
"Ensina
a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele" (Provérbios 22:6, RA).
Este versículo destaca a importância da educação espiritual desde
cedo. Embora os filhos tenham livre-arbítrio, os pais são chamados a plantar
sementes de fé que podem produzir frutos duradouros. A educação deve ser
constante, incansável, prática e centrada na Palavra de Deus:
"Estas
palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão
por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas
portas" (Deuteronômio 6:6-9, RA).
Haverá um momento em que a criança bem instruída no caminho do
Senhor irá questionar a fé, refletir e avaliar tudo o que aprendeu. Então,
passará a caminhar não mais pela fé de seus pais, mas seguira por sua própria
fé. Essa escolha será dela, pois os pais não podem tomar essa decisão por ela.
Este fato nos ensina a não julgar outras famílias cristãs que
possuem filhos desviados da verdade, atribuindo-lhes falha na educação.
Lembremos que a fé é pessoal e individual. Se, por algum motivo, alguns filhos
escolherem um caminho diferente, essa será uma decisão deles.
Os pais devem cercá-los de todo o cuidado e repreensão possível,
protegendo-os de ataques externos que possam moldar suas mentes, assim como de
amizades e influências que possam desviá-los da verdade. Devem ensinar
incessantemente a Palavra de Deus, mas, no fim, a decisão de seguir ou não a
mesma fé dos pais ainda será dos filhos.
2. Fé
que Impacta Toda a Casa
É verdade que a fé de uma pessoa pode trazer bênçãos para toda a sua
família. Exemplos:
1. O
Centurião de Cafarnaum (Mateus 8:5-13; Lucas 7:1-10): Sua fé resultou na cura de seu servo.
2. O
Carcereiro de Filipos (Atos 16:25-34): Ao
crer no Senhor Jesus, ele e toda a sua casa foram salvos e batizados.
Esses relatos mostram que a fé de um indivíduo pode ser um canal
para a manifestação do poder de Deus na família. No entanto, é importante
compreender que a fé e a salvação são pessoais e intransferíveis (Ezequiel
18:20).
Perceba que a fé do centurião trouxe cura ao seu servo doente, mas
não garantiu a ele a sua salvação. Sua saúde física foi restaurada, mas não
significa que a fé de seu patrão salvou também a sua alma. Esse servo, posteriormente,
pode reconhecer o milagre e compreender a salvação pela fé em Jesus Cristo e teve
a opção de aceitá-lo ou não como seu único e suficiente Salvador (Romanos
10:9). O mesmo ocorreu com o carcereiro de Filipos:
ele não salvou sua família por sua própria fé, mas, através dele, todos foram
alcançados, ouviram a mensagem do evangelho e decidiram crer em Cristo para
serem salvos (João 1:12).
Isso também pode ser observado em uma família onde ninguém era
cristão e o relacionamento com Deus era apenas superficial, baseado em regras e
dogmas, sem uma verdadeira comunhão com o Deus da Bíblia. Mas então, uma pessoa
dessa família tem um encontro real com o evangelho, busca e teme a Deus e
recebe a revelação da salvação pela fé em Cristo Jesus. Seu relacionamento com
Deus, sua caminhada com Jesus e seu estudo das Escrituras acabam influenciando
sua família. Com o tempo, sua esposa também aceita Jesus como seu único e
suficiente Salvador (Atos 2:38). Depois, seu cunhado e sua cunhada também aceitam, e, por fim, seus
próprios pais reconhecem que Jesus é o único que pode salvar suas almas (João 14:6).
Assim, como aconteceu com o carcereiro de Filipos, a fé desse
indivíduo impactou toda a sua casa. No entanto, é essencial entender que cada
pessoa precisou confessar sua fé em Cristo e aceitá-lo como Salvador (Romanos 10:13). A salvação não ocorre por se beneficiar da fé de outro, mas pela
decisão pessoal de crer naquele que se entregou na cruz para perdoar nossos
pecados (Efésios 2:8-9).
3.
Responsabilidade Individual Diante de Deus
A Bíblia é clara ao ensinar que cada pessoa será julgada por suas
próprias ações. Em Ezequiel 18:20, Deus declara:
"A
alma que pecar, essa morrerá. O filho não levará a maldade do pai, nem o pai
levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade
do ímpio cairá sobre ele."
Essa mesma ideia é reforçada em Jeremias 31:29-30, corrigindo a crença de que
filhos sofrem pelos pecados dos pais. Jesus também aborda a responsabilidade
individual em João 9:1-3, ao refutar que a cegueira de um homem fosse resultado do pecado
dele ou de seus pais.
Samuel foi um exemplo de uma criança obediente e dedicada ao Senhor.
Desde cedo, serviu no tabernáculo, demonstrando respeito e compromisso com Deus
(1
Samuel 2:18; 1 Samuel 3:1). Sua vida contrastava com a dos
filhos de Eli, Hofni e Finéias, que eram desobedientes, corruptos e desprezavam
os sacrifícios do Senhor (1 Samuel 2:12-17). Ambos morreram em juízo divino (1 Samuel 4:11).
Porém, mesmo Samuel sendo um homem temente a Deus e que seguia o
caminho que o agradava, enfrentou desafios em sua própria família. Seus filhos,
Joel e Abias, nomeados como juízes, não seguiram seu exemplo, buscando ganhos
desonestos, aceitando subornos e pervertendo a justiça (1
Samuel 8:1-3). Esse comportamento contribuiu para
que o povo pedisse um rei, alegando que seus filhos não eram dignos de liderar (1
Samuel 8:5).
Esse contraste destaca que a obediência a Deus não é
automaticamente transmitida de uma geração para outra. Mesmo com um pai
piedoso, a decisão de seguir ou não os caminhos de Deus é pessoal.
Tanto é verdade que podemos encontrar diversas situações na Bíblia:
há homens que seguiram o caminho da verdade, mesmo tendo exemplos ruins de seus
pais mas também há aqueles que desprezaram o caminho da verdade, apesar de
terem bons exemplos paternos e, por fim, há aqueles que, mesmo tendo seguido
durante toda a vida um caminho que desagradava a Deus, no final retornaram ao
caminho correto, seguindo o exemplo de seus pais e lembrando-se de tudo o que
lhes foi ensinado.
Abaixo veremos uma lista detalhada dos exemplos citados acima:
a) Filhos
que Permaneceram Fiéis Apesar da Desobediência dos Pais
1. Ezequias – Mesmo tendo Acaz como pai — um rei ímpio que promoveu
idolatria (2 Crônicas 28:1 e que por sua
vez era filho de Davi e não segui o exemplo de seu pai), Ezequias fez o
que era reto diante de Deus e liderou uma reforma espiritual (2 Reis
18:1-7).
2. Josias – Filho de Amom, um rei ímpio (2Rs 21:19-22), Josias buscou ao Senhor ainda jovem, liderando uma reforma
espiritual em Judá (2 Reis 22:1-2; 2 Crônicas 34:1-7).
3. Jônatas – Mesmo sendo filho do rebelde rei Saul, Jônatas permaneceu fiel a
Deus e reconheceu a unção de Davi como futuro rei de Israel (1
Samuel 18:1-4; 19:4-5; 20:30-34).
4. Samuel – Criado no templo por Eli, viu o mau exemplo dos filhos de Eli (1Sm
2:17-22), mas permaneceu fiel ao Senhor, tornando-se um
grande profeta (1 Samuel 3:19-21).
5. Gideão – Filho de Joás (2 Crônicas 24:24), Deus o escolheu para libertar Israel da opressão, (Juízes 6:25-29); Gideão foi juiz em Israel durante 40 anos.
b) Filhos que Foram Desobedientes Apesar da Obediência dos Pais
1. Os
filhos de Samuel – Joel e Abias não seguiram o
exemplo de seu pai e se corromperam, aceitando suborno e pervertendo o direito (1
Samuel 8:1-3).
2. Manassés, filho de Ezequias – Enquanto Ezequias foi um rei justo, Manassés
promoveu idolatria, construiu altares a falsos deuses e sacrificou seus
próprios filhos (2 Reis 21:1-9), mas isso não foi o fim, veja mais adiante.
3. Os
filhos de Josias – Jeoacaz,
Jeoaquim, Joaquim e Zedequias não seguiram o
exemplo piedoso de seu pai Josias e levaram Judá à ruína (2 Reis
23:31-37; 24:1-20).
4. Os
filhos de Davi – Amnom cometeu um ato abominável contra Tamar (2 Samuel
13:1-14), Absalão se rebelou e tentou usurpar o trono (2 Samuel
15:1-12) e Adonias tentou se coroar rei sem a bênção de Deus (1 Reis
1:5-10).
Especificamente no caso de Davi, o comportamento de seus
descendentes mostra como a educação que ele deu a seus filhos foi deficiente.
Davi era, sim, considerado um homem segundo o coração de Deus (1
Samuel 13:14; Atos 13:22), mas isso não o
tornava perfeito. A instrução dos filhos no caminho do Senhor não garante que
eles continuarão a segui-lo ao atingirem a maturidade, mas a falta dessa
educação certamente os afasta ainda mais do caminho que agrada a Deus (Provérbios
22:6):
I.
Davi não repreendeu Adonias
"Nunca
seu pai o tinha contrariado, dizendo: Por que fizeste assim? Além disso, era
ele muito formoso de aparência e havia nascido depois de Absalão."
(1 Reis 1:6)
Este versículo mostra que Davi nunca disciplinou Adonias, permitindo
que ele crescesse sem correção, o que pode ter contribuído para sua tentativa
de usurpar o trono.
II. A
falta de ação de Davi contra Amnom
"Ouvindo,
pois, o rei Davi todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira."
(2 Samuel 13:21)
Depois que Amnom violentou Tamar, sua própria irmã, Davi ficou
irado, mas não tomou nenhuma atitude contra ele. Sua inação provavelmente
contribuiu para a revolta de Absalão, que acabou matando Amnom (2
Samuel 13:28-29).
III. A
relação distante entre Davi e Absalão
"Assim
ficou Absalão dois anos em Jerusalém, sem ver a face do rei."
(2 Samuel 14:28)
Mesmo após permitir o retorno de Absalão do exílio, Davi se recusou
a vê-lo por dois anos, demonstrando uma relação distante. Esse afastamento pode
ter alimentado o ressentimento de Absalão, que posteriormente tentou tomar o
trono de seu pai (2 Samuel 15:1-12).
Esses textos indicam que Davi, apesar de ser um homem segundo o
coração de Deus, não foi um pai presente na correção de seus filhos, o que teve
consequências trágicas para sua família e para o reino de Israel.
5.
Lidando com a Rebeldia dos Filhos
Embora nem sempre os filhos sigam os ensinamentos recebidos, os pais
devem perseverar na oração e confiar na graça de Deus. Apesar de encontrarmos
na bíblia exemplos de filhos que não seguiram pelo mesmo caminho piedoso a
exemplo de seus pais, podemos encontrar também exemplos de filhos que, mesmo
após uma vida inteira em pecado, retornaram ao caminho correto ensinado por
seus pais. Podemos ver isso acontecer na história do filho pródigo contada por
Jesus (Lc 15:15-32), mas um exemplo
marcante é o de Ezequias e Manassés:
- Ezequias foi
um dos reis mais piedosos de Judá, liderando uma grande reforma espiritual
e confiando em Deus (2 Reis 18:3-6).
- Manassés,
seu filho, tornou-se um dos reis mais ímpios, promovendo idolatria e
feitiçaria. Contudo, no final de sua vida, ele se arrependeu e buscou ao
Senhor (2 Crônicas 33:1-16).
Esse contraste mostra que cada indivíduo tem liberdade de escolha,
mas também traz esperança de que eles lembrem do que seus pais o ensinaram e
tenham sua vida restaurada em Deus.
Conclusão
Embora a responsabilidade individual perante Deus seja clara (Ezequiel
18:20), os pais possuem um papel importante em ensinar
aos filhos os caminhos que agradam a Deus e também em adverti-los sobre as
consequências daqueles que vivem em desacordo com a vontade divina (Deuteronômio
6:6-7).
O estudo nos dá a consciência de que não há garantia de que nossos
filhos seguirão os mesmos caminhos que trilhamos, pois eles alcançarão a
maturidade e terão a escolha de seguir ou não tudo o que lhes ensinamos. No
entanto, exemplos bíblicos nos dão esperança e nos motivam a não nos cansarmos
de transmitir a nossos filhos os ensinamentos bíblicos, diariamente e de forma
constante, por diferentes meios (Provérbios 22:6).
Além disso, é essencial protegê-los contra influências externas, sem
ignorar que elas existem, pois mais cedo ou mais tarde tentarão corrompê-los. O
mais sábio, portanto, é preparar os filhos desde cedo, alertando-os sobre como
essas influências agem e as consequências de abandonar a Deus para seguir os
valores do mundo (1 Coríntios 15:33; Romanos 12:2). Dessa maneira, temos a esperança de que, mesmo quando
envelhecerem, eles não se desviarão do caminho do Senhor (Provérbios
22:6).
Aproveite e leia o estudo: