“Mas depois abandonaram a fé. É impossível levar essas pessoas a se arrependerem de novo, pois estão crucificando outra vez o Filho de Deus e zombando publicamente dele.” (Hebreus 6:6 NTLH)
A
passagem de Hebreus 6:6 é uma das mais discutidas em relação à segurança da
salvação e exige uma análise cuidadosa do contexto. Existem diferentes
interpretações teológicas sobre esse texto, geralmente relacionadas às visões
sobre a perseverança dos santos ou a possibilidade de apostasia. Este estudo
buscará abordar melhor esse assunto.
Contexto
é essencial
Sempre
devemos estar atentos ao contexto do texto para compreendermos o que o autor
queria transmitir. A expressão frequentemente ouvida, “texto fora do contexto é
pretexto”, é verdadeira. Quando isolamos um verso, corremos o risco de
distorcê-lo para manipular seu verdadeiro significado. Por isso, é vital que o
crente conheça a Bíblia de maneira integral, evitando interpretações
superficiais que possam ser utilizadas apenas para reforçar um ponto de vista
pessoal.
No
contexto de Hebreus 6:6, o autor está advertindo os cristãos judeus que estavam
tentados a voltar ao judaísmo, abandonando sua fé em Cristo. Nos versos
anteriores (Hebreus 6:4-5), ele descreve pessoas que:
- Foram iluminadas (entenderam a mensagem do
evangelho);
- Experimentaram o dom celestial (tiveram
uma experiência com Cristo);
- Participaram do Espírito Santo;
- Provaram a bondade da palavra de Deus e os
poderes do mundo vindouro.
Essas
características indicam que essas pessoas tiveram contato profundo com o
evangelho, mas o texto não afirma categoricamente que estavam salvas, apenas
que tiveram experiências espirituais.
“Impossível
levar essas pessoas a se arrependerem de novo”
O
verso 6 menciona que, se essas pessoas “abandonaram a fé”, seria impossível
levá-las ao arrependimento novamente, pois estão “crucificando outra vez o
Filho de Deus”. Essa linguagem aponta para uma rejeição consciente, deliberada
e definitiva de Cristo, após terem compreendido claramente quem Ele é. Esse ato
de rejeição é frequentemente entendido como apostasia — uma rejeição total e
irreversível da fé, que demonstra que essas pessoas nunca foram genuinamente
salvas e negaram aquele que se entregou na cruz.
Salvação
genuína versus salvação aparente
Uma
interpretação comum entre os teólogos que defendem a segurança eterna dos
salvos é que as pessoas descritas não perderam a salvação, mas nunca foram
verdadeiramente salvas. Elas tiveram experiências espirituais superficiais, mas
não um relacionamento transformador com Cristo. Isso é corroborado por outros
textos, como 1 João 2:19:
“Eles
saíram do nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido
dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse
manifesto que nenhum deles é dos nossos” (RA).
Jesus
também fala de sementes que caem em terrenos diferentes, e algumas germinam por
um tempo, mas não permanecem (Mateus 13:1-23). Isso ilustra que nem toda
resposta inicial ao evangelho reflete uma fé salvadora genuína. Em outra
passagem, Jesus declara:
“Muitos
me dirão naquele dia: Senhor, Senhor! Não profetizamos nós em teu nome? E em
teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que
praticam o mal!” (Mateus 7:22-23, NVI).
Advertência
real para crentes genuínos
Outra
interpretação é que o texto funciona como uma advertência aos crentes. Embora
um cristão genuíno não possa perder a salvação, essa exortação serve para
alertar contra o perigo de endurecer o coração e desviar-se do caminho. Em
Hebreus, o autor frequentemente usa advertências para estimular os crentes à
perseverança:
“Cuidem,
irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração perverso e incrédulo, que se
afaste do Deus vivo. Pelo contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias,
durante o tempo que se chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja
endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3:12-13, NVI).
O
poder da salvação em Cristo
A
Bíblia é clara que a salvação depende de Deus e não de nós. Jesus afirma:
“Eu
lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da
minha mão” (João 10:28, NVI). Paulo reforça: “Aquele que começou boa obra em
vocês vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6, NVI).
Outras
passagens fortalecem a ideia de que Deus guarda os seus:
- “Pois estou convencido de que nem morte
nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem
quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa
na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor” (Romanos 8:38-39, NVI).
- “Mas o Senhor é fiel; ele os fortalecerá e
os guardará do maligno” (2 Tessalonicenses 3:3, NVI).
- “E, todavia, entregamos esse homem a
Satanás para destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no
dia do Senhor” (1 Coríntios 5:5, NVI).
Conclusão
Hebreus
6:6 não contradiz a segurança da salvação, mas alerta sobre a seriedade de
rejeitar Cristo após conhecê-lo. Esse texto deve ser entendido como um chamado
à perseverança e uma advertência contra a apostasia. Aqueles que são
genuinamente salvos perseverarão, não por suas próprias forças, mas pela graça
sustentadora de Deus.
Portanto,
ao considerar essa passagem, lembremos que Deus é fiel e poderoso para guardar
os que são seus. Esse texto deve servir para refletirmos sobre a seriedade de
nossa fé e incentivarmos outros a se manterem firmes no caminho da verdade,
reconhecendo que somente em Cristo há plena segurança.
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