quinta-feira, 10 de outubro de 2024

3 JOÃO

Imitar o Bem e Rejeitar o Mal: Conselhos de João para a Igreja

A Terceira Epístola de João é uma das cartas mais curtas do Novo Testamento, mas carrega um profundo significado espiritual e prático para a vida cristã. Escrita pelo apóstolo João, esta carta é dirigida a Gaio, um líder da igreja conhecido por sua fidelidade e hospitalidade. João o elogia por seu amor e comprometimento em servir aos irmãos na fé, inclusive acolhendo missionários que pregavam o evangelho.

No entanto, o apóstolo também aborda questões de autoridade e vaidade dentro da igreja, alertando sobre a postura autoritária de Diótrefes, que se recusava a acolher os enviados de João e impedia outros de fazê-lo. Em contraste, João exalta o bom testemunho de Demétrio, incentivando Gaio a seguir bons exemplos e a viver de acordo com a verdade do evangelho.

Este estudo destaca as lições essenciais de 3 João: o valor da hospitalidade, a importância de cultivar relacionamentos genuínos, o perigo de líderes autoritários e a necessidade de manter um bom testemunho. A carta nos convida a viver a fé de maneira prática, com integridade, amor e generosidade, refletindo o verdadeiro espírito de comunhão cristã.

 

“1 ¶ O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade.

Líder da igreja. Os presbíteros se dedicavam à direção das igrejas, ao ensino da doutrina cristã e à pregação do evangelho. A palavra grega presbyteros quer dizer "ANCIÃO", mas era usada para os líderes cristãos sem referência à sua idade. Nos tempos do NT os presbíteros também eram chamados de BISPOS (At 20.17,28; 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).

João, um dos apóstolos de Jesus é considerado o autor dessas cartas. Após a ressurreição e ascensão de Jesus, João continuou a desempenhar um papel importante na liderança da igreja primitiva. Ele é tradicionalmente considerado o autor do Evangelho de João, das três Epístolas de João (1 João, 2 João e 3 João) e do Livro do Apocalipse (Revelação). Ele é frequentemente identificado como "o discípulo a quem Jesus amava" (João 13:23; 19:26; 20:2; 21:7,20). Suas cartas focam no amor, na verdade e na comunhão entre os crentes, refletindo sua profunda preocupação pastoral com a comunidade cristã. João é também reconhecido por seu papel na Ásia Menor, especialmente em Éfeso, onde se acredita que ele tenha passado seus últimos anos.

2  Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma.

Ele pedia a Deus que prosperasse seu amado irmão Gaio em todas as áreas de sua vida, incluindo sua saúde, assim como era também próspero em sua área espiritual. Demonstra aqui, assim como no início da carta, seu sincero e verdadeiro amor por essa pessoa chamada Gaio.

3 ¶ Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade.

Jõao destaca a sua alegria e expõe a Gaio o testemunho maravilhoso que recebe das pessoas que o conhecem, eles destacam como Gaio testemunha e permanece firme na verdade. A expressão "andas na verdade" é central para a mensagem de João. "Andar" implica uma ação contínua e um modo de vida. Não é suficiente apenas conhecer a verdade; é necessário vivê-la e aplicá-la diariamente. Gaio é elogiado por sua consistência em viver de acordo com a verdade do evangelho, demonstrando integridade e fidelidade.

A relação de João com Gaio é caracterizada por um profundo amor e preocupação espiritual. João se alegra ao saber que Gaio está vivendo de acordo com a verdade, mostrando que a saúde espiritual de Gaio é de grande importância para ele. Este versículo, como muitos outros nas epístolas de João, ressalta a importância da comunhão e do apoio mútuo entre os cristãos.

4  Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade.

Em continuação ao verso anterior, a maior alegria de João era ver seus "filhos espirituais" dando bons testemunhos a todos sobre andar na verdade do evangelho. Ele não destacou como alegria ver seus filhos espirituais sendo prósperos financeiramente, materialmente ou em outras áreas terrenas. Sua maior alegria é ver seus filhos espirituais produzindo frutos espirituais e seguindo firmes, dia a dia, testemunhando a todos que não vivem de aparência, mas que realmente vivem o que pregam e acreditam.

5  Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros,

Neste trecho, João continua sua carta dirigida a Gaio, elogiando-o por sua hospitalidade e fidelidade ao ajudar outros crentes, incluindo estrangeiros. Este reconhecimento sublinha a importância da hospitalidade e do amor prático dentro da comunidade cristã. A hospitalidade de Gaio se estende não apenas aos membros locais da comunidade, mas também a crentes que são estrangeiros. Isto indica uma abertura e acolhimento que transcendem barreiras culturais e geográficas, refletindo o amor universal promovido pelo evangelho.

6  os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus;

Os estrangeiros que receberam a hospitalidade de Gaio retornaram à igreja com um testemunho positivo sobre o amor que receberam. Este testemunho público reforça a boa reputação de Gaio e serve como um exemplo de como o amor cristão deve ser demonstrado na prática. João encoraja Gaio a continuar ajudando os viajantes em sua jornada de uma maneira que seja digna de Deus. Isto sugere que o apoio oferecido deve ser generoso, cuidadoso e refletir os padrões elevados de comportamento cristão. A expressão "modo digno de Deus" destaca a responsabilidade de tratar os outros de maneira que honre a Deus.

7  pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios.

A expressão "por causa do Nome" refere-se ao nome de Jesus Cristo. Esses irmãos saíram em missão para espalhar o evangelho e testemunhar sobre Cristo. Sua motivação principal era a devoção ao Senhor e o desejo de cumprir a Grande Comissão (Mateus 28:19-20).

Esses missionários não aceitaram apoio financeiro ou material dos gentios (não-crentes). Isto sugere que eles queriam evitar qualquer acusação de motivos mercenários e dependiam totalmente do apoio da comunidade cristã para suas necessidades. Eles estavam confiando na provisão de Deus através do amor e generosidade dos irmãos na fé.

8  Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade.

João destaca a responsabilidade da igreja de acolher e apoiar esses missionários. A palavra "acolher" implica fornecer hospitalidade, suporte material e encorajamento. Este ato de acolhimento é uma expressão concreta do amor cristão e da solidariedade entre os crentes. Acolher e apoiar esses missionários torna os crentes "cooperadores da verdade". Isto significa que, ao ajudar os missionários, os crentes participam ativamente na propagação do evangelho. Eles se tornam parceiros na missão de disseminar a verdade de Cristo, mesmo que não estejam fisicamente presentes nas viagens missionárias.

9 ¶ Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida.

João já havia escrito uma carta à igreja de Gaio, mas um certo homem chamado Diótrefes, que gosta de ser líder e de demonstrar autoridade sobre os outros, não acolhe João e seus colaboradores na fé (3 João 1:9). Diótrefes é descrito como alguém que busca proeminência e controle dentro da igreja, mais interessado em sua própria autoridade do que no bem-estar espiritual da comunidade ou na obediência à orientação apostólica.

João, anteriormente, destacou a importância da hospitalidade, especialmente para aqueles que estão envolvidos em trabalhos missionários (3 João 1:5-8). Ele acusa Diótrefes de contrariar suas recomendações enviadas na carta à igreja, recusando-se a acolher aqueles que João enviava para ajudar na obra do evangelho.

10  Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja.

Diótrefes não apenas negava acolher os irmãos, mas também levantava falso testemunho contra eles perante os outros membros de sua igreja. O instinto controlador de Diótrefes impedia que os irmãos da igreja acolhessem os missionários. Além disso, se algum deles prestasse hospitalidade, Diótrefes expulsava o membro de "sua igreja" (3 João 1:9-10).

A Palavra de Deus condena as pessoas que querem controlar os servos de Deus. O desejo escancarado por poder, por controle, por querer ter sempre as atenções voltadas para si, o desejo de parecer aos outros um super crente, que jamais cometerá erros, que jamais aconselhará erroneamente, que não falará jamais coisas erradas, e que sempre estará certo, e que as outras formas de pensar diferentes da dele sempre estarão equivocadas e sem validade, demonstra através desses frutos que o seu interesse não é voltado ao bem-estar dos irmãos, mas apenas à sua vaidade. (Mateus 20:25-26, Isaías 9:16, Filipenses 2:3, Mateus 7:15, 1 João 4:1, 2 Coríntios 11:13, 1 Pedro 5:2-3)

 11  Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus.

João fica preocupado com Gaio e pede para que não imite o que é mau. Como já vimos, os maus costumes corrompem os bons costumes, e o mau proceder de Diótrefes pode comprometer e estimular Gaio a agir como ele (3 João 1:11, 1 Coríntios 15:33).

João aborda também e com precisão a forma perfeita de identificar falsos mestres: os frutos. Essa palavra é dura contra Diótrefes. As atitudes dele de negar ajuda aos missionários e de expulsar os membros de sua igreja por dar hospitalidade a eles demonstram frutos maus. Não apenas João ensina a distinguir as pessoas pelos frutos (Mateus 7:16-20, Lucas 6:43-45), mas também Jesus alerta sobre os falsos profetas que podem ser identificados por seus frutos (Mateus 7:15-20) e Paulo instrui sobre a transformação do velho homem em Cristo (Efésios 4:22-24). João entre outros ensina que aquele que ainda anda em inveja, ciúmes, vaidade, ego, esse ainda não conheceu o Deus verdadeiro e não se libertou do velho homem (1 João 2:9-11 1 João 2:9-11, Efésios 4:22-24, Colossenses 3:9-10, Romanos 6:6).

12 ¶ Quanto a Demétrio, todos lhe dão testemunho, até a própria verdade, e nós também damos testemunho; e sabes que o nosso testemunho é verdadeiro.

Ao contrário de Diótrefes, Demétrio possui bom testemunho, e se há alguém em quem Gaio pode se espelhar, esse alguém é ele, não Diótrefes. Isso nos faz refletir: que tipo de testemunho estamos dando? Somos dignos de ser chamados fiéis ao evangelho? É claro que não podemos controlar aqueles que podem levantar falso testemunho, mas, da perspectiva de pessoas com autoridade espiritual como João, que conhecia e vivia o evangelho com integridade, que tipo de testemunho teríamos diante dele?

13  Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com tinta e pena, 14  pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva voz. (1-15) A paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por nome.” (3 João 1:1-14 RA)

Notem que ele pede para que saúdem todos nominalmente, mostrando que era um ministério pequeno, um grupo pequeno de pessoas onde todos conheciam a todos. João então se despede na carta e afirma que ainda tem muito mais a dizer, mas prefere fazê-lo pessoalmente.

 

APLICAÇÕES PRÁTICAS:

1.    Cultive relações genuínas: Baseadas em amor e apoio mútuo, não sejamos apenas “colegas”

 

2.    Viva a fé diariamente: a prática da fé é tão importante quanto a sua compreensão. Com integridade e fidelidade, não apenas aos fins de semana.

 

3.    Seja hospitaleiro: promovendo um espírito de hospitalidade e GENEROSIDADE.

 

4.    Mantenha um bom testemunho: Manter um bom testemunho diante dos outros, focando no serviço e no bem-estar da comunidade em vez de buscar poder e controle.

 

5.    Esteja atento a líderes autoritários: Evite aqueles que buscam poder.

 

6.    Imite o bem: Siga bons exemplos e pratique o bem.

 

7.    Prefira comunicação pessoal: Valorizar a comunicação pessoal e direta. Para assuntos importantes.

 

A Terceira Epístola de João nos lembra que a vida cristã não se baseia apenas em crenças, mas na prática diária da fé através do amor, da hospitalidade e do serviço aos outros. João elogia Gaio por seu exemplo fiel e adverte contra o orgulho e a autoridade mal direcionada, representada por Diótrefes. A mensagem central é clara: devemos imitar o bem, viver a verdade e apoiar uns aos outros, sempre buscando a glória de Deus acima de qualquer vaidade ou poder pessoal.