quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (8:1-8)

A Força do Evangelho em Tempos de Perseguição

“1 ¶ E Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.

Começou aqui a primeira grande perseguição contra a Igreja de Cristo. Após a morte de Estêvão, muitos, incluindo Saulo de Tarso, ficaram com "sede" de sangue e iniciaram uma violenta perseguição contra todos os que compartilhavam da mesma fé que Estêvão professava. Este é o primeiro texto em que Saulo, o futuro apóstolo Paulo, é mencionado como perseguidor dos cristãos (Atos 7:58; 8:1). A perseguição foi tão intensa que obrigou os irmãos em Cristo a deixarem suas casas e se espalharem por toda a região próxima, incluindo a Judéia e Samaria (Atos 8:1). No entanto, os apóstolos permaneceram em Jerusalém, possivelmente para continuar a liderança da Igreja e fortalecer os novos crentes, apesar do perigo (Atos 8:1).

2  Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele. 3  Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere.

Alguns homens piedosos, ou em outras versões, homens religiosos, fizeram o velório de Estêvão sob muito lamento e pranto (Atos 8:2). É notável que, mesmo diante da perseguição intensa, ainda havia quem se arriscasse a prestar honras fúnebres a Estêvão, demonstrando o impacto de sua vida e morte entre os crentes.

Porém, Saulo, que viria a ser o apóstolo Paulo, assolava a Igreja, perseguindo de tal forma que arrastava de suas próprias casas aqueles que seguiam a Cristo, enviando-os para a prisão, tanto homens como mulheres (Atos 8:3). Aqui podemos ver a gravidade da perseguição que Saulo infligia aos seus próprios irmãos em Cristo. Nos seus relatos posteriores, Paulo fornece mais detalhes sobre o quão terrível foi essa perseguição:

  • "Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje. Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres" (Atos 22:3-4).
  • "E assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia" (Atos 26:10-11).
  • "Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus" (1 Coríntios 15:9).
  • "Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a Igreja de Deus e a devastava" (Gálatas 1:13).
  • "[...] a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade" (1 Timóteo 1:13).

Veja como pode ser enganoso o nosso coração; Paulo perseguia e matava cristãos crendo que estava fazendo a vontade de Deus, mas mal sabia ele que estava cego e sendo um instrumento do diabo para perseguir e matar os salvos em Cristo Jesus (Jeremias 17:9).

4 ¶ Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.

Mas aqueles que fugiram da perseguição e se espalharam por toda a região, por onde passavam, espalhavam a mensagem de Deus, evangelizando em todos os lugares que iam. Ou seja, quanto mais eles se espalhavam, mais o evangelho era pregado e mais pessoas ouviam falar da salvação de Deus para os homens através de Cristo Jesus (Atos 8:4). Esta salvação é anunciada como um dom de Deus pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9), e é oferecida a todos que creem e confessam que Jesus é o Senhor (Romanos 10:9-10). A mensagem de salvação proclama que Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras (1 Coríntios 15:3-4).

5  Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo.

Vamos conhecer um pouco sobre a história dos samaritanos e entender o motivo pelo qual esse povo sofria tanto preconceito e rivalidade por parte dos judeus.

Os assírios, ao tomarem o Reino do Norte de Israel em 722 a.C., sob o comando do rei Sargão II, deportaram grande parte da população israelita e trouxeram pessoas de várias nações conquistadas para se estabelecerem em Samaria, misturando-se com os judeus que viviam lá (2 Reis 17:24). Como resultado, os samaritanos passaram a praticar uma forma de adoração que misturava elementos do culto ao Deus de Israel com crenças e rituais pagãos (2 Reis 17:29-33).

Essa mistura religiosa criou uma profunda divisão entre os samaritanos e os judeus de Judá, resultando em uma hostilidade que durou séculos. Quando os judeus retornaram do exílio para reconstruir o Templo em Jerusalém, os samaritanos ofereceram ajuda, mas foram rejeitados, o que intensificou ainda mais as tensões (Esdras 4:1-3). Em resposta, os samaritanos construíram seu próprio templo no Monte Gerizim, perpetuando a rivalidade religiosa.

Essa divisão é refletida em vários eventos bíblicos, como a interação entre Jesus e a mulher samaritana no poço de Jacó (João 4:7-26). Nesse encontro, Jesus rompe as barreiras culturais e religiosas ao falar com uma mulher samaritana, oferecendo-lhe a "água viva" que leva à vida eterna. Outro exemplo é a parábola do Bom Samaritano, onde Jesus usa a figura de um samaritano, historicamente desprezado pelos judeus, como modelo de compaixão e amor ao próximo (Lucas 10:25-37).

Apesar dessa história de conflito e divisão, o evangelho foi anunciado em Samaria, e muitos samaritanos creram em Cristo. O ministério de Filipe em Samaria mostra como a mensagem de Jesus começou a quebrar as barreiras culturais e religiosas, trazendo reconciliação e salvação a um povo historicamente distante dos judeus (Atos 8:5-8).

6  As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. 7  Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. 8  E houve grande alegria naquela cidade.

As multidões atendiam, de forma unânime, às palavras de Filipe, movidas pelos sinais e prodígios que ele realizava. Filipe, com poder do Espírito Santo, expulsava espíritos imundos de muitos possessos, que saíam gritando em alta voz, algo que todos podiam testemunhar. Além disso, muitos paralíticos e coxos, ou seja, pessoas com deficiências nas pernas, eram também curados. A evidência visual desses milagres despertava a atenção da multidão quando Filipe proclamava o evangelho (Atos 8:6-8).

Esse evangelho trouxe grande alegria à cidade. Não apenas porque livrou pessoas de possessões demoníacas e restaurou os movimentos de muitos deficientes físicos, mas porque trouxe a mensagem de salvação. Essa mensagem, que antes estava restrita a Jerusalém, começou a se espalhar para outras regiões, cumprindo o propósito que Jesus havia estabelecido: que o evangelho fosse pregado em todo o mundo (Atos 1:8). Para que isso acontecesse, foi necessário o derramamento de sangue cristão, o que impulsionou a dispersão dos discípulos e a expansão da mensagem de salvação para além das fronteiras de Jerusalém.

Esses eventos registrados até aqui (Atos 8:1-8) nos revelam algumas verdades importantes:

1. O extraordinário poder de Deus pode transformar qualquer pessoa

Observe o que Deus fez com o apóstolo Paulo. Antes, ele perseguia os cristãos, os prendia e consentia com a morte de muitos deles. No entanto, Deus o chamou, e Paulo passou de perseguidor a perseguido. Ele foi preso, torturado e, ainda assim, não negou a sua fé, nem mesmo diante da morte, por amor a Jesus Cristo. Isso demonstra que Deus pode transformar qualquer pessoa; nada pode limitar o poder de Deus (Atos 9:1-19).

2. O efeito da perseguição: crescimento. Deus deseja que a Igreja se mova

Deus não quer que o evangelho fique escondido; Ele quer que a mensagem seja visível, como uma luz colocada sobre a mesa, que ilumina toda a casa, e não debaixo dela, onde não iluminará nada. Os portadores do testemunho de Jesus ressuscitado relutaram em sair de Jerusalém, talvez porque estivessem confortáveis ali. No entanto, a mensagem da salvação não era para ficar restrita a uma cidade. Foi necessário um evento radical, o derramamento de sangue cristão, para que a mensagem se estabelecesse em outros lugares (Mateus 5:14-16; Atos 1:8).

A Igreja demorou a compreender que a mensagem era para alcançar "os confins da terra" (Atos 1:8). Estêvão foi o primeiro a entender isso, seguido por Filipe, o helenista, depois Pedro, através de visões que o despertaram, e finalmente Saulo, o qual se tornou Paulo. O que podemos aprender com esses e outros eventos bíblicos é que a mensagem de Deus parece viajar melhor, ou mais rápido, quando é perseguida. Tanto é verdade que, hoje, acredita-se que o número de cristãos na China já superou em muito o número nos Estados Unidos, um país considerado livre para pregar a Palavra, enquanto a China, um país comunista, persegue e proíbe a prática religiosa cristã.

3. A responsabilidade de compartilhar o evangelho

Lembre-se da parábola dos talentos, na qual um homem rico confia diferentes quantias de dinheiro a seus servos. Ele elogia aqueles que fazem o dinheiro multiplicar, mas repreende aquele que o esconde. Isso significa que aqueles que têm conhecimento do evangelho têm a responsabilidade de compartilhá-lo, e não de escondê-lo. Quem tem ainda mais conhecimento, tem o dever de fazer ainda mais com ele (Mateus 25:14-30).

Não se esconda; seja corajoso. Fale de Jesus para as pessoas. Fale dAquele que deu a Sua vida para nossa salvação (João 3:16). Fale dAquele que nos livrou da condenação eterna (Romanos 8:1) e nos concedeu a herança da vida eterna com Deus Pai, Filho e Espírito Santo (Romanos 6:23). Comece com as pessoas ao seu redor: no seu grupo social, na sua roda de amigos, na sua família (Mateus 28:19-20).

“Ah, mas se eu falar de Jesus para meus amigos, eles não vão mais querer saber de mim.” Pense bem: quem é o seu melhor amigo, não é Jesus? Se seus amigos não querem ser amigos do seu melhor amigo, então talvez você não precise deles. Coragem! A Palavra de Deus já previa esse tipo de situação, não apenas entre amigos, mas também entre pais e filhos. Vamos honrar nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, assim como aqueles homens e mulheres que perderam suas vidas sem negar a Cristo, falemos com coragem desse Salvador a todos (Mateus 10:34-39).

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