Do Tabernáculo ao Templo: A Persistente Infidelidade de Israel e a Soberania de Deus
42 ¶ Mas Deus se afastou e os
entregou ao culto da milícia celestial, como está escrito no Livro dos
Profetas: Ó casa de Israel, porventura, me oferecestes vítimas e sacrifícios no
deserto, pelo espaço de quarenta anos, 43
e, acaso, não levantastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do deus
Renfã, figuras que fizestes para as adorar? Por isso, vos desterrarei para além
da Babilônia.
Estêvão está diante
do Sinédrio, respondendo a acusações de blasfêmia contra Deus, Moisés, o templo
e a lei. Em sua defesa, ele recapitula a história de Israel, destacando como o
povo repetidamente resistiu ao Espírito Santo e rejeitou os profetas enviados
por Deus. O objetivo de Estêvão é mostrar que a rejeição dos mensageiros de
Deus é um padrão histórico, culminando na rejeição de Jesus Cristo, o Messias
prometido.
Nos versos de Atos
7:42-43, Estêvão cita o profeta Amós (Amós 5:25-27), apontando que, mesmo
enquanto estavam no deserto, os israelitas não eram totalmente fiéis a Deus. A
frase "Deus se afastou" indica que Ele permitiu que Israel seguisse
seus próprios caminhos, abandonando a orientação divina. A "milícia
celestial" refere-se à adoração de corpos celestes, como estrelas e
planetas, práticas comuns entre os povos pagãos e que, lamentavelmente, foram
adotadas por Israel em momentos de apostasia.
A pergunta retórica
feita por Estêvão (Atos 7:42-43) desafia a sinceridade dos sacrifícios
oferecidos por Israel durante os 40 anos no deserto. A implicação é que,
enquanto realizavam rituais, seus corações estavam longe de Deus, voltando-se
para a idolatria. Moloque, o deus citado, era associado a sacrifícios humanos,
especialmente de crianças, algo profundamente abominável a Deus (Levítico 18:21;
Jeremias 32:35). Renfã (ou Refã) é menos claro, mas provavelmente se refere a
uma divindade estelar ou planetária.
O verso termina com
a declaração: "Por isso, vos desterrarei para além da Babilônia"
(Atos 7:43). Estêvão mostra que Deus expulsou os israelitas de sua terra como
forma de discipliná-los em consequência dos pecados cometidos. Estêvão usa essa
passagem para ilustrar que a infidelidade de Israel não era um problema novo,
mas um padrão persistente na história do povo. Mesmo quando estavam sendo
guiados diretamente por Deus no deserto, os israelitas ainda caíram na
idolatria.
A crítica de Estêvão
é contundente: o povo escolhido resistiu à verdadeira adoração e preferiu se
voltar para deuses falsos, resultando em julgamento e exílio. Estêvão sugere
que a rejeição de Jesus Cristo pelos líderes religiosos de sua época era uma
continuação desse padrão histórico de desobediência e resistência à vontade de
Deus.
Este discurso coloca
os líderes do Sinédrio em uma posição desconfortável, pois implica que eles
estão repetindo os erros de seus antepassados ao rejeitarem o Messias.
44 O tabernáculo do Testemunho estava entre
nossos pais no deserto, como determinara aquele que disse a Moisés que o
fizesse segundo o modelo que tinha visto.
O Tabernáculo do
Testemunho era um local sagrado e "portátil", onde ficava a Arca
da Aliança e as tábuas de pedra que continham a lei de Deus. É importante notar
que o Tabernáculo foi construído de acordo com um modelo já existente, dado por
Deus a Moisés. Ele não foi uma invenção humana, mas sim uma réplica do padrão
celestial mostrado por Deus. As especificações detalhadas para a construção do
Tabernáculo estão todas descritas no Livro de Êxodo (Êxodo 25–27, 36–40).
45 O qual também nossos pais, com Josué, tendo-o
recebido, o levaram, quando tomaram posse das nações que Deus expulsou da
presença deles, até aos dias de Davi.
Josué foi um dos
poucos que teve coragem e não mentiu sobre a Terra Prometida, mesmo diante do
medo dos gigantes que habitavam a região. Ele e Calebe foram os únicos daquela
geração a serem poupados no deserto e, por sua fidelidade, foram os únicos a
entrar na Terra Prometida (Números 14:30). Nem mesmo Moisés teve esse
privilégio; embora tenha visto a terra de longe, por ter desobedecido a Deus,
ele não pôde entrar nela (Números 20:7-12, Deuteronômio 34:4-5).
Por ser portátil, o
Tabernáculo do Testemunho podia ser transportado e, de fato, foi levado para a
Terra Prometida, onde permaneceu até os dias de Davi.
46 Este achou graça diante de Deus e lhe
suplicou a faculdade de prover morada para o Deus de Jacó. 47 Mas foi Salomão quem lhe edificou a casa.
Davi era chamado de
"homem segundo o coração de Deus" (1 Samuel 13:14; Atos 13:22) porque
reconhecia prontamente seus erros, se arrependia e buscava fazer a vontade de
Deus. No entanto, por ter derramado muito sangue em guerras, ele não teve a
honra de construir o templo. Essa tarefa foi atribuída a um de seus filhos,
Salomão (1 Crônicas 28:3-6).
48 Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas
por mãos humanas; como diz o profeta: 49
O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me
edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? 50 Não foi, porventura, a minha mão que fez
todas estas coisas?
Davi ficou
incomodado com o fato de morar em um palácio confortável, enquanto a arca de
Deus estava em uma tenda portátil. Surgiu então em seu coração o desejo de
construir um templo onde Deus pudesse habitar. No entanto, como foi dito pelo
profeta, Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (Atos 7:48; 17:24).
Mesmo assim, de forma provisória, Deus aceitou o desejo de Davi e honrou sua
intenção de construir um local de adoração permanente. Deus quis ensinar a Davi
que Ele pode ser adorado em qualquer lugar e não estava limitado a um local
específico. No entanto, Ele ainda honrou o desejo de Davi, permitindo que seu
filho Salomão construísse o templo.
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