quarta-feira, 31 de julho de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (6:1-7)

A Estrutura Inicial da Igreja: Diáconos, Apóstolos e a Distribuição Diária

“1 ¶ Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.

Helenistas são judeus que nasceram em terras estrangeiras e que falavam grego. Esses estrangeiros estavam se queixando de que suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de dinheiro (Atos 6:1). Começou aí o primeiro problema do socialismo utópico, “a impressão de que estavam recebendo uma quantia inferior ao outro” (Atos 6:1).

2  Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.

Os doze apóstolos, ou seja, todos responsáveis e líderes, não tinham entre eles alguém com autoridade máxima a ponto de tomar decisões contrárias às dos outros. Em uma só voz, todos os doze sabiam que o mais importante era a pregação do evangelho, e não a distribuição de dinheiro ao povo (Atos 6:2-4). Podem ter certeza de que alguns, naquela época, sabendo que eles distribuíam dinheiro diariamente, entravam para o grupo mesmo não sendo crentes em Cristo Jesus, interessados somente no conforto imediato, mas não duradouro, que o dinheiro poderia proporcionar.

3  Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço;

Podemos pensar: “Ah, mas é só para distribuir dinheiro ao povo; não precisa ser religioso, basta saber lidar com finanças e está tudo ok.” Nada disso! Todos os eleitos para diáconos deveriam ser cheios do Espírito Santo, ou seja, todos deveriam ser reconhecidamente dominados pelo Espírito Santo. Todos os diáconos deveriam ser conhecidos pelo povo como alguém temente a Deus (Atos 6:3).

4  e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.

Se havia algo que os apóstolos faziam mais do que anunciar a palavra de Deus, era orar. Vimos até aqui grandes discursos de quando eles saíam e anunciavam a palavra de Deus na rua ou no templo, e em um trecho curto vimos que eles se reuniam e oravam. Pode-se ter certeza de que esse trecho curto não significa que passavam curtos períodos orando; pelo contrário, eles viviam mais em oração e em grupo do que fora anunciando o evangelho. Quando saíam e pregavam aos de fora, novidades aconteciam, e por isso muitas mais coisas eram registradas pelo autor do livro (Atos 1:14; Atos 2:42).

Quanto à atividade de dividir o dinheiro, os apóstolos não necessariamente disseram que essa atividade não tinha valor na igreja. Pelo contrário, era uma atividade importante, sim, a distribuição sábia de dinheiro aos necessitados. Mas o que eles deixaram claro é que ELES, as testemunhas do Deus vivo, os portadores da boa nova, não poderiam deixar de anunciar o evangelho e de se consagrarem à oração para lidar com finanças (Atos 6:2-4). Em outras palavras, nem todos são chamados por Deus para ser pregadores, pastores ou mestres, mas todos com o Espírito Santo têm a obrigação de servir a Deus. Seja falando de Jesus na rua, em sua casa, seja servindo como tesoureiro na igreja, seja limpando a igreja ou encorajando os outros, TODOS que têm o Espírito Santo dentro de si se sentirão obrigados a fazer algo para Deus. Ele não nos deixará “confortáveis” enquanto não servirmos Aquele que nos deu vida em abundância (Efésios 4:11-12; 1 Coríntios 12:4-11). Somos chamados a ser servos de Deus, comprometidos a viver para Ele e realizar Suas obras (Romanos 6:22; 1 Pedro 2:16).

5  O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.

A palavra "prosélito" no contexto do Novo Testamento refere-se a uma pessoa gentia que se tornava judia. Antes da graça, alguém não israelita poderia pertencer ao povo de Deus se passasse pelo rito da circuncisão e obedecesse à lei judaica. Contudo, o problema com os novos convertidos ao cristianismo era que eles não estavam sendo obrigados a seguir essas práticas judaicas, o que causava repulsa e divisão entre os israelitas e aqueles que não compreendiam a verdadeira graça, resultando em conflito e resistência ao novo ensino pregado pelos apóstolos (Atos 15:1-5; Gálatas 2:3-5).

No início, a estrutura da igreja era composta por apóstolos e diáconos, esses ajudavam nos trabalhos de administração da igreja e cuidavam dos pobres, das viúvas e dos necessitados em geral. Além disso, os diáconos também pregavam o evangelho e ensinavam a doutrina cristã (Atos 6:1-4). A função do diácono não se restringia apenas à administração e ao cuidado dos necessitados, mas também incluía o ensino da palavra de Deus e a pregação do evangelho ao mundo. "Pouca coisa, não é?" (Atos 6:5-6; 1 Timóteo 3:8-13; Atos 11:29).

Por exemplo, Filipe, um dos sete diáconos escolhidos (Atos 6:5-6), é descrito como um evangelista em Atos 8:5-7, onde ele prega o evangelho em Samaria, realiza milagres, como a cura de paralíticos e coxos, e expulsa espíritos imundos. Isso ilustra como os diáconos estavam envolvidos na expansão do evangelho e no cuidado pastoral da comunidade.

Além da administração e do cuidado dos necessitados, os diáconos também desempenhavam um papel importante no serviço prático da igreja. Em Romanos 16:1-2, Febe, uma diaconisa, é mencionada como uma serva da igreja em Cencreia, que ajudava a receber irmãos e irmãs e apoiava a comunidade. Esse tipo de serviço prático era fundamental para a vida da igreja e permitia que os apóstolos se dedicassem à oração e ao ministério da palavra (Atos 6:4).

A função dos diáconos era abrangente, envolvendo tanto a administração dos recursos da igreja quanto a responsabilidade espiritual e pastoral. Em 1 Pedro 4:10, é destacado que cada cristão deve administrar os dons recebidos como "bons despenseiros da multiforme graça de Deus," refletindo a importância do serviço e da liderança na vida da igreja.

Filipenses 1:1 menciona os diáconos ao lado dos bispos, indicando que eles tinham um papel significativo na estrutura e no funcionamento da igreja primitiva. E em Tito 1:7-9, as qualificações para os bispos, que incluem características de liderança servidora e gestão responsável, mostram a importância da liderança dentro da comunidade cristã.

Portanto, o trabalho dos diáconos na igreja primitiva era complexo e multifacetado, incluindo administração, pregação, ensino e serviço prático, essencial para o funcionamento eficaz e fiel da comunidade cristã.

6  Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.

A imposição de mãos, como ainda é praticada hoje, era um ritual primitivo na igreja cristã. Esse tipo de ritual era usado em diversas situações, como na escolha de líderes nas igrejas (Atos 6:6), na cura de pessoas (Marcos 16:18) e na transmissão do Espírito Santo (Atos 8:17). No entanto, isso não era uma regra fixa e não funcionava apenas quando as mãos eram impostas.

Em várias ocasiões, vemos o Espírito Santo tomar as pessoas apenas através da pregação, sem a imposição de mãos (Atos 10:44). Pessoas também foram curadas e até ressuscitadas apenas pela voz (João 11:43-44) ou à distância, sem a imposição de mãos (Mateus 8:13).

Esse ritual de imposição de mãos estava sempre acompanhado de oração (Atos 13:3). É necessário tomar cuidado com esse tipo de manifestação para não dar a impressão de que algo está sendo manifestado somente porque alguém estendeu as mãos. É importante evitar a vaidade que pode surgir com esse tipo de ritual.

7  Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.

A pregação de Pedro e dos apóstolos era realmente convincente, trazendo novos cristãos, alunos, aprendizes e discípulos diariamente, inclusive entre os sacerdotes (Atos 2:41, Atos 6:7). É importante lembrar que, embora alguns sacerdotes tenham entregado Jesus à cruz por inveja, nem todos os religiosos daquela época condenaram Cristo. Nicodemos, por exemplo, não seguiu a Cristo abertamente, mas mostrou humildade e respeito por Ele (João 3:1-2; João 19:39). Muitos outros também reconheceram Jesus como o Messias.

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