A Inveja dos Saduceus e a Prisão dos Apóstolos
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Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é,
a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, 18
prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
Seita significa um grupo menor se desligando de um grupo maior. Na
época, o grupo predominante era o dos fariseus. Logo, os saduceus são considerados
uma seita porque se desligaram desse grupo maior e, através de suas próprias
doutrinas e convicções, criaram essa nova religião, antagônica às doutrinas do
grupo maior. Destacam-se a doutrina de não acreditar na ressurreição (Mateus
22:23; Atos 23:8), em anjos, na imortalidade da alma e na predestinação de
Deus, acreditando no livre-arbítrio.
Movidos pela inveja, esse grupo prendeu os apóstolos. Mas com que
autoridade eles fizeram isso? Nada menos que o sumo sacerdote estava ali, tendo
total influência sobre o povo e sendo responsável pelos cultos no templo. A
inveja nunca foi tão mencionada na Bíblia como nessas circunstâncias envolvendo
fariseus, saduceus e o Cristianismo (Atos 5:17-18).
Inveja pode ser resumida como um sentimento que faz alguém querer
ter o que outra pessoa tem. Não necessariamente precisa ser algo material. Na
Bíblia, os vários relatos em que aparece a inveja estão relacionados com o fato
do invejoso querer ter a glória e o prestígio que o invejado tem, e não
necessariamente o que ele possui. Por exemplo, José do Egito: os irmãos foram
tomados de inveja, não por causa da roupa especial que José tinha, mas pelo
carinho, atenção e honra que ele recebia (Gênesis 37:11). Não necessariamente
queriam a roupa, mas a mesma honra que José tinha. Davi e Saul: a inveja de
Saul por Davi não era pelo que ele materialmente tinha, mas pela honra que ele
tinha ao declararem: "Davi matou dezenas de milhares e Saul apenas
milhares" (1 Samuel 18:7). O desejo de ter intensamente o que o outro tem
chama-se cobiça. Um exemplo claro desse pecado na Bíblia é o caso de Nabote e o
rei Acabe. O rei queria o campo de Nabote para transformá-lo em um jardim, mas
por motivos sentimentais, Nabote não vendeu o campo. O rei e sua rainha
conspiraram até conseguir de forma trágica esse campo (1 Reis 21:1-16). O ciúme
é outro pecado que faz alguém ficar inseguro quando perde a atenção ou
consideração de alguém que gosta muito. Está mais relacionado à parte amorosa,
mas não descarta acontecer com amigos ou pessoas que se considera muito.
No Novo Testamento, na circunstância da pregação do evangelho, os
saduceus foram movidos pela inveja, não por algo material, até porque os
apóstolos não tinham nada a mais do que eles já tinham. A inveja foi motivada
por um certo ciúme, pois estavam perdendo a honra, a glória e a admiração do
povo. O evangelho pregado por Pedro e os apóstolos atacava diretamente a seita
dos saduceus. Eles estavam sendo contrariados publicamente pela pregação de
Pedro. Tudo o que eles eram a favor, Pedro pregava contra: falava sobre o
evangelho anunciado pelos anjos (Gálatas 1:8), falava sobre o inferno e as
consequências após a morte para aqueles que negarem Jesus (Mateus 10:28; Marcos
9:43-48), falava sobre a soberania total de Deus sobre todos, inclusive sobre o
“livre-arbítrio” (Romanos 9:18-21), e, principalmente, pregava sobre alguém que
ressuscitou dos mortos, Jesus (Atos 4:2, 10; 1 Coríntios 15:12-14).
Logicamente, vendo que estavam perdendo o povo para essa nova doutrina, movidos
pela inveja, prenderam os dois até que pudessem ser julgados (Atos 5:17-18).
19 Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as
portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: 20 Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao
povo todas as palavras desta Vida.
Notem que a palavra "Vida" está em letra maiúscula, pois o
autor deu ênfase a essa palavra. Mas o que isso significa? Bem,
"Vida" neste contexto se refere ao evangelho que eles vinham
pregando. Esse evangelho estava transformando vidas, trazendo esperança e
salvação a todos que ouviam. E essa mensagem, a mensagem desta vida abundante,
desta nova vida em Cristo Jesus, não poderia cessar, não poderia deixar de ser
anunciada (João 10:10; João 14:6).
21 Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia,
entraram no templo e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com
ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e
mandaram buscá-los no cárcere.
Podemos pensar: “Quanta estupidez, isso não é fé, é estupidez.
Acabaram de ser presos e no dia seguinte foram novamente ao mesmo lugar
provocar aqueles que, com inveja, os prenderam.” Mas eles não estavam dispostos
a obedecer a homens. A mensagem do anjo de Deus foi sem rodeios, direta,
simples: voltem lá e continuem a anunciar o evangelho (Atos 5:20).
Diferentemente daqueles homens que abandonaram Jesus, eles
corajosamente anunciavam o evangelho. A diferença é que agora eles tinham
poder, tinham o Espírito Santo com eles. Sem o Espírito Santo, ninguém busca a
Deus, nem um sequer; nem mesmo aqueles que estavam diariamente vendo os
milagres de Jesus ficaram ao lado dele (Romanos 3:11).
Hoje temos a misericórdia de Deus e nos mantemos nela graças ao
próprio Deus, graças ao Espírito Santo. Não se orgulhem de nada, é tudo pela
misericórdia dele (Efésios 2:8-9).
22 Mas os guardas, indo, não os acharam no
cárcere; e, tendo voltado, relataram, 23
dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas
nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro.
Pense na vergonha e no temor desses homens, do sumo sacerdote e dos
saduceus, diante de muitas autoridades do povo. O Sinédrio pode ser comparado
hoje ao Supremo Tribunal Federal, a autoridade máxima, com poder de julgar
tanto pessoas religiosas quanto civis. O Senado dos filhos de Israel era
composto por grupos de anciãos representando as tribos de Israel, todos
aguardando para julgar esses homens que estavam pregando a ressurreição de um
homem que se dizia ser o Messias.
Para a surpresa de todos, os guardas relataram que esses homens não
estavam mais na cadeia. As portas estavam trancadas, todos os seguranças
devidamente posicionados, mas a cela estava vazia (Atos 5:21-23).
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Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas
informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto.
Ficaram perplexos, cheios de incertezas. Logicamente, estavam
ouvindo uma pregação diferente da que se ouvia. Estavam vendo sinais sendo
realizados diante de seus olhos; por mais que não aceitassem, não podiam negar
que algo muito sério estava acontecendo. Estavam saindo da zona de conforto com
a pregação desse novo evangelho, sendo contrariados pela nova mensagem que
Pedro anunciava (Atos 4:13-14).
25 Nesse ínterim, alguém chegou e lhes
comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo
ensinando o povo.
Isso estava acontecendo diante de todas as autoridades reunidas
naquele Sinédrio. Fazia parte do plano de Deus que todas essas autoridades
tomassem conhecimento do que estava acontecendo. Por isso, a importância dos
apóstolos obedecerem a Deus e pregarem o evangelho como se não houvesse o
amanhã. Eles não deixavam nada para depois, não perdiam tempo, anunciavam tudo,
quer aceitassem ou não (Atos 4:19-20).
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