A Estrutura Inicial da Igreja: Diáconos, Apóstolos e a Distribuição Diária
“1 ¶ Ora, naqueles dias,
multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas
deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Helenistas são
judeus que nasceram em terras estrangeiras e que falavam grego. Esses
estrangeiros estavam se queixando de que suas viúvas estavam sendo esquecidas
na distribuição diária de dinheiro (Atos 6:1). Começou aí o primeiro problema
do socialismo utópico, “a impressão de que estavam recebendo uma quantia
inferior ao outro” (Atos 6:1).
2 Então, os doze convocaram a comunidade dos
discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus
para servir às mesas.
Os doze apóstolos,
ou seja, todos responsáveis e líderes, não tinham entre eles alguém com
autoridade máxima a ponto de tomar decisões contrárias às dos outros. Em uma só
voz, todos os doze sabiam que o mais importante era a pregação do evangelho, e
não a distribuição de dinheiro ao povo (Atos 6:2-4). Podem ter certeza de que
alguns, naquela época, sabendo que eles distribuíam dinheiro diariamente,
entravam para o grupo mesmo não sendo crentes em Cristo Jesus, interessados
somente no conforto imediato, mas não duradouro, que o dinheiro poderia
proporcionar.
3 Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens
de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos
deste serviço;
Podemos pensar: “Ah,
mas é só para distribuir dinheiro ao povo; não precisa ser religioso, basta
saber lidar com finanças e está tudo ok.” Nada disso! Todos os eleitos para
diáconos deveriam ser cheios do Espírito Santo, ou seja, todos deveriam ser
reconhecidamente dominados pelo Espírito Santo. Todos os diáconos deveriam ser
conhecidos pelo povo como alguém temente a Deus (Atos 6:3).
4 e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e
ao ministério da palavra.
Se havia algo que os
apóstolos faziam mais do que anunciar a palavra de Deus, era orar. Vimos até
aqui grandes discursos de quando eles saíam e anunciavam a palavra de Deus na
rua ou no templo, e em um trecho curto vimos que eles se reuniam e oravam.
Pode-se ter certeza de que esse trecho curto não significa que passavam curtos
períodos orando; pelo contrário, eles viviam mais em oração e em grupo do que
fora anunciando o evangelho. Quando saíam e pregavam aos de fora, novidades
aconteciam, e por isso muitas mais coisas eram registradas pelo autor do livro
(Atos 1:14; Atos 2:42).
Quanto à atividade
de dividir o dinheiro, os apóstolos não necessariamente disseram que essa
atividade não tinha valor na igreja. Pelo contrário, era uma atividade
importante, sim, a distribuição sábia de dinheiro aos necessitados. Mas o que
eles deixaram claro é que ELES, as testemunhas do Deus vivo, os portadores da
boa nova, não poderiam deixar de anunciar o evangelho e de se consagrarem à
oração para lidar com finanças (Atos 6:2-4). Em outras palavras, nem todos são
chamados por Deus para ser pregadores, pastores ou mestres, mas todos com o
Espírito Santo têm a obrigação de servir a Deus. Seja falando de Jesus na rua,
em sua casa, seja servindo como tesoureiro na igreja, seja limpando a igreja ou
encorajando os outros, TODOS que têm o Espírito Santo dentro de si se sentirão
obrigados a fazer algo para Deus. Ele não nos deixará “confortáveis” enquanto
não servirmos Aquele que nos deu vida em abundância (Efésios 4:11-12; 1
Coríntios 12:4-11). Somos chamados a ser servos de Deus, comprometidos a viver
para Ele e realizar Suas obras (Romanos 6:22; 1 Pedro 2:16).
5 O parecer agradou a toda a comunidade; e
elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro,
Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
A palavra
"prosélito" no contexto do Novo Testamento refere-se a uma pessoa
gentia que se tornava judia. Antes da graça, alguém não israelita poderia
pertencer ao povo de Deus se passasse pelo rito da circuncisão e obedecesse à
lei judaica. Contudo, o problema com os novos convertidos ao cristianismo era
que eles não estavam sendo obrigados a seguir essas práticas judaicas, o que
causava repulsa e divisão entre os israelitas e aqueles que não compreendiam a
verdadeira graça, resultando em conflito e resistência ao novo ensino pregado
pelos apóstolos (Atos 15:1-5; Gálatas 2:3-5).
No início, a
estrutura da igreja era composta por apóstolos e diáconos, esses ajudavam nos
trabalhos de administração da igreja e cuidavam dos pobres, das viúvas e dos
necessitados em geral. Além disso, os diáconos também pregavam o evangelho e
ensinavam a doutrina cristã (Atos 6:1-4). A função do diácono não se restringia
apenas à administração e ao cuidado dos necessitados, mas também incluía o
ensino da palavra de Deus e a pregação do evangelho ao mundo. "Pouca
coisa, não é?" (Atos 6:5-6; 1 Timóteo 3:8-13; Atos 11:29).
Por exemplo, Filipe,
um dos sete diáconos escolhidos (Atos 6:5-6), é descrito como um evangelista em
Atos 8:5-7, onde ele prega o evangelho em Samaria, realiza milagres, como a
cura de paralíticos e coxos, e expulsa espíritos imundos. Isso ilustra como os
diáconos estavam envolvidos na expansão do evangelho e no cuidado pastoral da
comunidade.
Além da
administração e do cuidado dos necessitados, os diáconos também desempenhavam
um papel importante no serviço prático da igreja. Em Romanos 16:1-2, Febe, uma
diaconisa, é mencionada como uma serva da igreja em Cencreia, que ajudava a
receber irmãos e irmãs e apoiava a comunidade. Esse tipo de serviço prático era
fundamental para a vida da igreja e permitia que os apóstolos se dedicassem à
oração e ao ministério da palavra (Atos 6:4).
A função dos
diáconos era abrangente, envolvendo tanto a administração dos recursos da
igreja quanto a responsabilidade espiritual e pastoral. Em 1 Pedro 4:10, é
destacado que cada cristão deve administrar os dons recebidos como "bons
despenseiros da multiforme graça de Deus," refletindo a importância do
serviço e da liderança na vida da igreja.
Filipenses 1:1
menciona os diáconos ao lado dos bispos, indicando que eles tinham um papel
significativo na estrutura e no funcionamento da igreja primitiva. E em Tito
1:7-9, as qualificações para os bispos, que incluem características de
liderança servidora e gestão responsável, mostram a importância da liderança
dentro da comunidade cristã.
Portanto, o trabalho
dos diáconos na igreja primitiva era complexo e multifacetado, incluindo
administração, pregação, ensino e serviço prático, essencial para o
funcionamento eficaz e fiel da comunidade cristã.
6 Apresentaram-nos perante os apóstolos, e
estes, orando, lhes impuseram as mãos.
A imposição de mãos,
como ainda é praticada hoje, era um ritual primitivo na igreja cristã. Esse
tipo de ritual era usado em diversas situações, como na escolha de líderes nas
igrejas (Atos 6:6), na cura de pessoas (Marcos 16:18) e na transmissão do
Espírito Santo (Atos 8:17). No entanto, isso não era uma regra fixa e não
funcionava apenas quando as mãos eram impostas.
Em várias ocasiões,
vemos o Espírito Santo tomar as pessoas apenas através da pregação, sem a
imposição de mãos (Atos 10:44). Pessoas também foram curadas e até
ressuscitadas apenas pela voz (João 11:43-44) ou à distância, sem a imposição
de mãos (Mateus 8:13).
Esse ritual de
imposição de mãos estava sempre acompanhado de oração (Atos 13:3). É necessário
tomar cuidado com esse tipo de manifestação para não dar a impressão de que
algo está sendo manifestado somente porque alguém estendeu as mãos. É
importante evitar a vaidade que pode surgir com esse tipo de ritual.
7 Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém,
se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam
à fé.
A pregação de Pedro
e dos apóstolos era realmente convincente, trazendo novos cristãos, alunos,
aprendizes e discípulos diariamente, inclusive entre os sacerdotes (Atos 2:41,
Atos 6:7). É importante lembrar que, embora alguns sacerdotes tenham entregado
Jesus à cruz por inveja, nem todos os religiosos daquela época condenaram
Cristo. Nicodemos, por exemplo, não seguiu a Cristo abertamente, mas mostrou
humildade e respeito por Ele (João 3:1-2; João 19:39). Muitos outros também
reconheceram Jesus como o Messias.