sexta-feira, 24 de maio de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (4:32-37)

A comunidade cristã (a igreja)

32 ¶ Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.

Eles compartilhavam todos os seus bens, não havia egoísmo entre eles, tudo era considerado comum entre todos. A sociedade perfeita funciona assim, com todos sendo de coração e alma unidos (Salmos 133:1 João 17:21).

Em uma sociedade perfeita não pode haver desabrigados ou pessoas com fome, e no início da igreja primitiva, funcionou muito bem a partilha e a comunhão entre si de seus bens, mas não foi duradouro.

Comunistas e socialistas costumam citar passagem como essa para afirmar que Deus governava dessa forma. Mas durante o crescimento da igreja, observamos muitas doutrinas que eram praticadas no início e que foram sendo extintas ou aprimoradas ao longo do tempo. Sobre a questão de compartilhar tudo entre todos, foi uma das práticas que foi aprimorada.

Infelizmente, esse tipo de governo iguala todos em um mesmo patamar: a pobreza. Mesmo entre irmãos, há aqueles que querem comer sem querer trabalhar (2 Tessalonicenses 3:10). Esse tipo de governo atrai e cria muitos preguiçosos que apenas desejam se sustentar às custas de outros, buscando apenas serem mantidos, e isso pode até funcionar inicialmente quando têm riquezas compartilhadas por outros, mas eventualmente essas riquezas se esgotam. Quando isso acontece, gera pobreza e fome para todos os envolvidos.

Essa situação ocorreu posteriormente com esse grupo de pessoas, pois, ao compartilharem tudo, passaram por um período difícil no qual precisaram ser socorridos por outras igrejas por meio de ofertas, para que os irmãos em Jerusalém pudessem superar a fome (Atos 11:29).

Isso não anula a grandeza que tinham em compartilhar tudo entre todos, mas até mesmo esse tipo de gesto deve ser feito com sabedoria e discernimento. A partilha generosa e o altruísmo são valores fundamentais, mas precisam ser equilibrados com uma gestão prudente e responsável dos recursos. A prática de compartilhar tudo entre todos na igreja primitiva era um reflexo da união e do amor fraternal que permeava a comunidade, e funcionou bem em um contexto de forte coesão social e espiritual. Contudo, com o crescimento e a expansão da igreja, surgiram novos desafios que exigiram ajustes e adaptações nas práticas comunitárias.

Ao longo do tempo, os líderes da igreja perceberam a necessidade de estabelecer diretrizes mais estruturadas para a administração dos recursos. Isso incluiu a promoção do trabalho diligente entre os membros, para evitar a dependência excessiva e incentivar a contribuição ativa de cada indivíduo para o bem comum. A advertência de Paulo em 2 Tessalonicenses 3:10, "Se alguém não quiser trabalhar, também não coma", ilustra a importância de equilibrar a generosidade com a responsabilidade pessoal.

Em resumo, a generosidade e o compartilhamento são virtudes a serem cultivadas, mas devem ser exercidas com discernimento e responsabilidade, para garantir que todos possam prosperar juntos, sem criar dependências prejudiciais ou esgotar os recursos comuns. A verdadeira sabedoria reside em encontrar o equilíbrio entre a compaixão e a prudência, promovendo uma comunidade justa e solidária, mas também resiliente e sustentável.

33  Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.

Com grande poder, ou seja, com pregações poderosas, eficazes e contundentes, davam testemunho da ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo (Atos 4:33). As pregações eram sobre o evangelho, sobre Jesus, sobre o testemunho que tinham frente aos milagres que viram e sobre a revelação da salvação pela graça de Deus, não eram sobre subir em um púlpito e pregar sobre o que fizeram na semana, não eram sobre pregar suas próprias vidas, mas sim testemunhar o evangelho, e isso faziam com grande poder.

Os apóstolos proclamavam a ressurreição de Jesus com grande poder, e a graça abundante estava presente na comunidade (Atos 4:33). A pregação eficaz dos apóstolos e a graça abundante lembram outros eventos e ensinamentos bíblicos (Romanos 15:19; 2 Coríntios 12:9). A pregação poderosa e a graça são sinais da presença ativa de Deus entre Seu povo, fortalecendo-os e guiando-os.

34  Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes 35  e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.

Os crentes demonstravam extrema generosidade, vendendo suas propriedades e distribuindo os recursos conforme a necessidade. Este ato de generosidade pode ser comparado a outras práticas e ensinamentos bíblicos:

Deuteronômio 15:4: "Contudo, não haverá entre ti pobre; pois o Senhor, certamente, te abençoará na terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança, para a possuíres."

Lucas 12:33: "Vendei vossos bens e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói."

Esses versículos mostram o ideal de uma comunidade sem necessitados, uma visão que os primeiros cristãos procuraram realizar (Atos 4:34-35). Não há dúvidas de que esse tipo de comportamento é virtuoso, mas, como foi explorado nos versos 32 (Atos 4:32), esse tipo de prática foi aperfeiçoado com o tempo de modo a evitar que preguiçosos tornassem um peso para os outros e, em momentos de crise, como o citado em Atos 11:29, causassem colapso nesse tipo de comunidade.

A verdade é que não podemos nos apegar a tudo e considerar que tudo é nosso. Deus nos dá sementes também, e essas sementes servem para plantar, para semear, para ajudar. Não “coma” também as sementes; tenha o hábito de ofertar com sabedoria. Isso não ajuda a Deus, Ele não precisa de nossas ofertas, mas é um ato que simboliza que não somos apegados e nem dependentes do dinheiro. É um ato de gratificação, demonstrando gratidão a Deus ofertando e ajudando o próximo (2 Coríntios 9:10; Lucas 6:38; Provérbios 11:24-25; Malaquias 3:10).

36  José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, 37  como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.

Barnabé é um exemplo específico de generosidade. Ele vendeu um campo e entregou todo o valor aos apóstolos, demonstrando seu compromisso com a comunidade e com Deus. Barnabé é mencionado várias vezes no Novo Testamento como um exemplo de encorajamento e apoio, além de ser também um dos pilares da igreja primitiva (Atos 11:24; Atos 13:2).

Assim como na primeira igreja, devemos buscar essa unidade em nossas congregações, promovendo um espírito de comunhão e amor. A oração e o compromisso com a causa comum do Evangelho são fundamentais (Efésios 4:3). A prática de compartilhar recursos pode ser aplicada hoje em dia também em nossas igrejas, seja através de programas de assistência social ou ajudando alguma família específica. Há várias formas de aplicar a generosidade (Atos 2:44-45).

Quando nossas pregações deixam de ser somente sobre "como podemos crescer nesta vida" e passam a ser sobre o crescimento de todos, quando deixam de ser individuais e passam a atender aos interesses coletivos, a igreja aprenderá mais sobre união. Deixará de ser egoísta, de pensar somente em si mesma, e até mesmo as ofertas crescerão. Como está escrito, "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros" (Filipenses 2:4). "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo" (Gálatas 6:2). "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordante" (Lucas 6:38).

Portanto, ao promovermos um espírito de generosidade e serviço mútuo, alinhados com os ensinamentos de Cristo, poderemos experimentar um crescimento espiritual coletivo e mais profundo, refletindo verdadeiramente o amor de Deus em nossas ações diárias.

Devemos também nos esforçar para viver de forma que nosso testemunho cristão seja claro e poderoso, refletindo a graça de Deus em nossas vidas (Colossenses 4:6). Uma boa maneira de fazer isso é seguir o exemplo de Barnabé, sendo encorajadores e ajudando os necessitados, o que certamente irá inspirar outros a fazerem o mesmo (Hebreus 10:24).

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