O DISCURSO DE PEDRO: ADVERTÊNCIAS E EXPLICAÇÕES
14
¶ Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes
termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento
disto e atentai nas minhas palavras.
Finalmente, depois da manifestação desse grande milagre e do
cumprimento da promessa de Jesus de enviar ao mundo seu Santo Espírito, após a
manifestação desse Espírito sobre os crentes ali presentes, após o sinal dado
por Deus aos homens, fazendo o Espírito Santo se manifestar nos crentes através
de profecias e do dom de falar em outras línguas, Pedro assume a tribuna,
exercendo seu papel de líder. Ele começa a explicar o que está acontecendo e a
dissipar as dúvidas daqueles que estavam perplexos e indagando sobre o que
estava acontecendo. Pedro combate a primeira "fake news" sobre esse
espetáculo, refutando aqueles que estavam considerando tudo aquilo como um
circo e acreditando que os crentes estavam embriagados.
15 Estes homens não estão embriagados, como
vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.
Pedro não usa argumentos frágeis para afirmar que eles não estavam
embriagados, dizendo: "São todos meus conhecidos, eu garanto a vocês que
eles não estão embriagados." Não, Pedro utiliza um argumento que teria
mais credibilidade para todos, ao mencionar o horário do dia para afirmar que dificilmente
haveria pessoas embriagadas ali nas primeiras horas do dia. Alguns podem até
pensar que Pedro estava falando à noite, por volta das 9 horas, já que os
judeus começam um novo dia a partir do pôr do sol, ao contrário de nós, que
começamos à meia-noite. Mas pelo contexto, as três primeiras horas do dia
referem-se ao nascer do sol. Nem todos ali haviam almoçado, apesar de ser uma
festa. Ainda era cedo para que as pessoas estivessem embriagadas, considerando
a cultura local.
16 Mas o que ocorre é o que foi dito por
intermédio do profeta Joel: 17 E
acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão
visões, e sonharão vossos velhos; 18 até
sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles
dias, e profetizarão.
O que estava acontecendo ali era, sim, o cumprimento da promessa
feita por Jesus aos apóstolos, mas essa promessa não foi feita de última hora.
Todo o plano de Deus já estava traçado; o que faltava era alguém executá-lo
completamente, indo até o fim. Jesus foi aquele que venceu. Pergunto-me, Deus
poderia ter perdido seu filho para Satanás? Tinha algo a se perder no plano que
Deus fez? Ele entregaria Jesus para morrer em nosso lugar, mas e se Satanás
conseguisse convencê-lo do contrário? Era possível? E se Satanás, quando
tentou, tivesse tido êxito? Para Deus, a entrega de Jesus aos homens foi fácil
porque tinha tudo "garantido"? Ele correu risco? Pois assim como o
homem se corrompeu e se enganou com Satanás, assim como a terça parte dos anjos
se enganou também, Jesus poderia também ter sido enganado? Mas Cristo triunfou.
Ele venceu toda e qualquer tentação. Ele tem a honra de ter o nome sobre todo
nome por causa da obra que fez naquela cruz. Glória a Deus por isso, por ter
confiado o plano da salvação a Jesus, aquele que foi fiel até o fim.
(Filipenses 2:9)
19 Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais
embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas, e a lua, em
sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. 21 E acontecerá que todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo.
Pedro termina com a citação da profecia em Joel. Percebam que ele
citou a profecia sobre o que tinha acabado de acontecer, mas continuou a citar
o restante da profecia, falando dos sinais que antecederiam o glorioso dia do
Senhor (Atos 2:16-21).
Os sinais no céu se referem às estrelas caindo como figos de uma
figueira sacudida, e os sinais embaixo da terra se referem a terremotos, não
somente os mesmos que costumamos ver em países com esse histórico, mas
terremotos em todas as partes da terra.
Sobre o sol se transformar em trevas e a lua em sangue, não quer
dizer que literalmente vai acontecer isso, mas a lua ficará avermelhada na cor
de sangue, e isso já é um fenômeno conhecido e batizado de lua sangrenta, que
ocorre durante um eclipse lunar. Ou seja, o sol fica atrás da terra, e a lua
fica pouco iluminada, dando a ela uma aparência avermelhada, especialmente
durante uma superlua, que é a lua cheia mais próxima da terra. Outra situação
em que a lua pode ficar avermelhada como sangue é quando os céus estão cheios
de fumaça, causando pouca luminosidade, e tanto a lua quanto o sol podem
parecer escurecidos por conta da fumaça. E que fumaça? A fumaça das cidades em
chamas, como foi o caso de Sodoma e Gomorra.
A escatologia dos fins do mundo narrada no Apocalipse oferece mais
insights sobre esses eventos:
“12 Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e
sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua
toda, como sangue, 13 as estrelas do céu
caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair
os seus figos verdes, 14 e o céu
recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas
foram movidos do seu lugar. 15 Os reis
da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e
todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes 16 e disseram aos montes e aos rochedos: Caí
sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do
Cordeiro, 17 porque chegou o grande Dia
da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Apocalipse 6:12-17 RA)
Percebam que primeiramente Pedro "aterrorizou" a todos com
a profecia de Joel sobre como serão os finais do tempo, como será poderosa a
mão de Deus sobre toda a terra, de como tudo e todos tentarão fugir da presença
deles, mas agora ele começa a mostrar a eles a BOA NOTÍCIA, o verdadeiro
evangelho. Após aterrorizá-los, Pedro fala a eles sobre aquele que pode
salvá-los desse dia terrível:
22 Varões israelitas, atendei a estas palavras:
Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres,
prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre
vós, como vós mesmos sabeis;
Todos ali conheciam a história de Jesus Cristo; a notícia corria
rápido, de boca em boca. Pessoas eram trazidas de longe, ou vinham de longe
para buscar a cura de suas enfermidades junto a Jesus. Quem de fato não cria
nele, pelo menos ouvia falar no "tal" Jesus que andava sobre as águas
(Mateus 14:25), ressuscitava mortos (João 11:43-44), curava leprosos (Mateus
8:2-3), e todos esses milagres que Jesus realizou perante aquelas pessoas eram
prova de que o mesmo era aprovado por Deus.
23 sendo este entregue pelo determinado desígnio
e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;
Pela presciência de Deus (1 Pedro 1:2), Presciência é a capacidade
de prever o futuro, isso prova que todo o plano da salvação não foi se desdobrando
e acontecendo conforme a história ia avançando, não, tudo foi planejado, e
Cristo foi aquele que cumpriu tudo, foi fiel até o fim. Não foi somente aqui em
que algum personagem bíblico declara Deus com essa capacidade de prever o
futuro. O próprio Pedro, lá na frente em uma de suas cartas diz:
“eleitos, segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a
aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1
Pedro 1:2 RA)
A nossa eleição parte de Deus, e não de nós, isso entra na área de
predestinação, ou seja, fomos criados e predestinados a sermos salvos por
Cristo (Efésios 1:4), mas é uma área muito polêmica e não quero entrar em detalhes
ainda sobre esse tema.
24 ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os
grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela.
Após Pedro ter "aterrorizado" a todos com a profecia de
Joel, ele finalmente começa a falar de Jesus, mencionando Sua ressurreição e
como a morte seria incapaz de mantê-Lo morto. Pedro segue explicando, desta vez
citando Davi. Davi era e ainda é um ancestral muito importante para os judeus.
Veja uma das promessas (profecias):
“6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos
deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; 7 para que se aumente o seu governo, e venha
paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o
firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do
SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6-7 RA)
“5 Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que
levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e
executará o juízo e a justiça na terra. 6
Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o
seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.” (Jeremias 23:5-6 RA)
Os judeus aguardavam sim um descendente de Davi, mas ficaram de
certa forma frustrados porque aquele que fez sinais milagrosos na frente deles
morreu, e não reinou como eles esperavam, não assumiu o trono ou a
"presidência" imediatamente e começou a fazer justiça como as
profecias previam. Isso explica porque os apóstolos questionaram Jesus se
aquela hora, a hora em que permaneceu com ele 40 dias, seria o momento em que
tornaria Israel novamente uma nação soberana, achavam que Jesus já tinha
voltado para cumprir com a profecia (Atos 1:6), mas como vimos, ainda não era
tempo para isso, e Cristo trabalha até hoje ainda restaurando tudo para quando
voltar, aí sim estabeler o seu reino aqui na terra.
25 Porque a respeito dele diz Davi: Diante de
mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja
abalado. 26 Por isso, se alegrou o meu
coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne
repousará em esperança, 27 porque não deixarás
a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
28 Fizeste-me conhecer os caminhos da
vida, encher-me-ás de alegria na tua presença.
O texto diz aqui que o próprio Davi profetizou sobre a ressurreição,
e aqui está a explicação de que a morte não poderia deter Cristo, pois já
estava profetizado de que o próprio Deus não deixaria a alma dEle na morte, não
permitiria que o TEU SANTO VEJA CORRUPÇÃO. Mas tem um probleminha nessa
profecia. Da forma que está escrita, os judeus interpretavam que Davi estava
falando dele mesmo, e o texto frio dá sim exatamente essa interpretação, mas
Pedro agora dá a todos o real entendimento desta passagem, e como foi possível
Pedro entender isso? Lembram, Cristo deu a eles o entendimento das escrituras
sagradas (Lucas 24:45).
29 Irmãos, seja-me permitido dizer-vos
claramente a respeito do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e o seu
túmulo permanece entre nós até hoje. 30
Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus
descendentes se assentaria no seu trono, 31
prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado
na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.
Diferentemente do que se referia o texto, a profecia de Davi não era
a ele mesmo, mas sim sobre Jesus Cristo. Davi foi sepultado e ainda permanece
em seu túmulo até os dias de hoje, mas, diferentemente, Cristo foi
ressuscitado, ELE VIVE, não experimentou a morte e seu corpo não sofreu
corrupção, ou seja, não foi degradado com o tempo. Não ficou apenas em ossos;
em apenas três dias, seu corpo já viraria incorruptível e ressuscitaria em
glória eterna.
O próprio Cristo já havia ensinado aos fariseus que estavam
enganados quanto às profecias de Davi, e uma delas podemos encontrar no verso
abaixo:
“41 ¶ Reunidos os fariseus,
interrogou-os Jesus: 42 Que pensais vós
do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. 43 Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo
Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: 44
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu
ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? 45
Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?” (Mateus 22:41-45
RA)
O próprio Cristo aqui nos ensina que, apesar de ter nascido de
Maria, descendente de Davi, e seu pai adotivo José ser também descendente, Ele
era sim descendente de Davi, mas não filho. Ele é filho do Deus Altíssimo.
Vimos já no primeiro verso do Novo Testamento Jesus sendo anunciado como filho
de Davi e filho de Abraão (Mateus 1:1). Vimos pessoas clamando a ele e o
chamando de filho de Davi, mas apenas para cumprir as Escrituras e mostrar ao
povo de Israel que já nasceu o Salvador. A espera por outro será em vão e
catastrófica para quem assim o fizer. Jesus é filho de Deus, e por isso Cristo
os corrigiu.
32 A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos
nós somos testemunhas.
Todos aqueles que ali estavam profetizado em outras línguas eram
testemunhas de que Cristo ressuscitou dos mortos.
33 Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo
recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.
34 Porque Davi não subiu aos céus, mas
ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
35 até que eu ponha os teus inimigos por
estrado dos teus pés. 36 Esteja
absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
Agora Pedro cita a mesma referência que Cristo anteriormente havia
explicado aos fariseus (Mateus 22:41-46). A passagem que Cristo ensina sobre as
profecias de Davi sobre o messias era conhecida de muitos ali, as palavras
daquele que fez sinais e maravilhas eram conhecidas de muitos, e quando Pedro
relembra-os que Cristo já os havia chamado a atenção sobre o verdadeiro
entendimento das escrituras sagradas, reconheceram que tinham crucificado o
verdadeiro messias prometido (continua no próximo estudo (Atos 2:37-41)).