segunda-feira, 14 de julho de 2025

A ORIGEM DE TUDO - O DIA 5 E 6 DA CRIAÇÃO

20 ¶ Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus.  21  Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.  22  E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves.  23  Houve tarde e manhã, o quinto dia.

A criação dos seres aquáticos e das aves

O quinto dia é marcado pela criação das criaturas marinhas, dos seres que se movem rente ao fundo das águas e das aves. O contexto é claramente voltado aos ambientes aquáticos, portanto, os "seres que rastejam" mencionados aqui não se referem aos répteis terrestres, que seriam criados no sexto dia. Em vez disso, trata-se de animais marinhos que habitam e se deslocam próximos ao fundo do mar, como moluscos (polvos, lulas), crustáceos (caranguejos, camarões), equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar) e peixes bentônicos (como linguados e arraias).

A bênção da fecundidade

No quinto dia, Deus criou os animais marinhos e as aves, e logo os abençoou com a capacidade de se reproduzirem. A frase “sede fecundos e multiplicai-vos” não é apenas uma ordem, mas uma benção. Deus não apenas mandou, mas capacitou esses seres a gerar vida.

Essa benção permitia que enchessem os mares e os céus com sua descendência. Por isso, não se multiplicar seria ir contra a benção recebida, pois significaria não cumprir o propósito que Deus lhes deu.

Em resumo: multiplicar-se era uma resposta natural à benção divina, um sinal de que estavam vivendo conforme a vontade do Criador.

O sexto dia e a criação dos animais terrestres

24 ¶ Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez.  25  E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.

No sexto dia, Deus criou os animais terrestres, todos a partir da terra, conforme as suas espécies. Essa criação inclui os animais domésticos, como o boi, a cabra, o carneiro e outros que poderiam viver próximos ao ser humano; os répteis, como as tartarugas, jacarés, lagartos e serpentes, que se movem rente ao chão; e os animais selváticos, como o leão, a onça, o elefante, o cavalo selvagem e tantos outros que vivem livres na natureza.

Deus formou cada grupo com características próprias, respeitando a diversidade entre as espécies, e ao final declarou que tudo isso era bom, reconhecendo o valor e a perfeição de sua obra.

A inclusão dos insetos na criação

Mas alguém pode perguntar: e os insetos, quando foram criados? A resposta está implícita quando Deus diz: “Produza a terra seres viventes” (Gênesis 1:24), pois esse termo abrange toda forma de vida que habita e se move sobre a terra, incluindo os insetos. Assim, é nesse momento que surgem as formigas, abelhas, moscas, besouros, gafanhotos, pernilongos, sim, até o “terrível” pernilongo também faz parte da criação divina e cumpre seu papel no equilíbrio ecológico que Deus estabeleceu.

Perceba também que Deus finaliza a obra da criação dizendo repetidamente que “isso era bom” e, ao concluir, declara que tudo era “muito bom” (Gênesis 1:31), aprovando Sua obra perfeita e harmoniosa. Isso nos ensina a olhar para a criação com respeito e reverência, reconhecendo que tudo o que Deus fez é bom e possui um propósito. Não devemos encarar a natureza como algo pertencente a Satanás ou como um emaranhado de maldade, mas sim como a expressão do poder, sabedoria e bondade divinos.

O papel dos insetos no plano original

Por exemplo, insetos como moscas e pernilongos fazem parte da criação original de Deus, criada boa e funcional, mesmo que hoje muitos os vejam como incômodos ou pragas. A Bíblia não menciona diretamente os pernilongos, mas inclui insetos em geral como parte dos “seres viventes” criados por Deus (Gênesis 1:24). No entanto, após a entrada do pecado no mundo, a criação sofreu corrupção (Romanos 8:20-22), e fenômenos como doenças e pragas, entre elas as moscas e os pernilongos, passaram a causar sofrimento e desconforto.

Assim, as moscas, que aparecem como pragas em passagens como as pragas do Egito (Êxodo 8:21-24), não foram criadas originalmente para ser agentes de aflição, mas se tornaram instrumentos usados por Deus em Seu juízo, decorrentes da contaminação que o pecado trouxe para a criação. Portanto, o mal e o sofrimento presentes no mundo não refletem a intenção original de Deus, mas sim a consequência da queda da humanidade.

O plano alimentar original: uma criação sem morte

Essa realidade também se aplica à alimentação dos animais e do próprio ser humano. No plano original de Deus, não havia consumo de carne. Tanto os homens quanto os animais foram criados para se alimentarem de vegetais. Em Gênesis 1:29-30, Deus declara:

“Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente, e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todo réptil da terra em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.”

Esse era o plano perfeito: um mundo sem morte, onde nenhum ser vivo precisava matar outro para viver. Isso incluía os animais selvagens, que originalmente também se alimentavam de plantas. O comportamento predatório e a cadeia alimentar baseada na morte não eram naturais, mas vieram após o pecado.

A permissão para comer carne após o dilúvio

Com a queda do homem e a corrupção da criação (Romanos 8:20-22), a harmonia foi quebrada. E após o dilúvio, a situação da terra era ainda mais crítica: tudo havia sido submerso, e a vegetação, embora pudesse rebrotar, não estava disponível imediatamente para sustento. É nesse contexto que Deus concede ao homem a permissão para comer carne.

Em Gênesis 9:3, Deus diz a Noé:

“Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.”

Ou seja, Deus permitiu que Noé e sua família comessem carne como um meio de sobrevivência, já que não havia frutas nem ervas disponíveis logo após o dilúvio.

Provisão e sabedoria divina para a sobrevivência

Essa concessão não foi feita sem planejamento. Antes mesmo do dilúvio, Deus providenciou sete casais de alguns tipos de animais, em vez de apenas um casal como os demais. Em Gênesis 7:2-3, Deus ordena:

“De todo animal limpo levarás contigo sete casais, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, um casal, o macho e sua fêmea. Também das aves dos céus, sete casais, macho e fêmea, para se conservar em vida a semente sobre a face de toda a terra.”

Esses animais limpos seriam usados tanto para sacrifícios (Gênesis 8:20) quanto para alimentação, sem colocar em risco a preservação da espécie. Deus, em Sua sabedoria, já havia providenciado o necessário para o sustento de Noé após o dilúvio.

Carnivorismo e consumo de carne: consequências da queda

Tanto a agressividade entre os animais (carnivorismo) quanto o consumo de carne pelos seres humanos não eram naturais no plano original de Deus, mas surgiram como resultado da queda e da degradação da criação.

A esperança da restauração futura

A esperança da restauração futura, inclusive, aponta para um tempo em que a harmonia será restaurada:

“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito [...] o leão comerá palha como o boi” (Isaías 11:6-7), sinalizando um retorno à paz e à não-violência entre as criaturas, como no princípio.

Portanto, comer carne não era o plano original de Deus, mas sim uma concessão temporária para a sobrevivência em um mundo afetado pela queda e pela devastação do dilúvio. Com isso, aprendemos que o pecado comprometeu a criação perfeita de Deus, o comportamento violento dos animais, o sofrimento e até mesmo a morte passaram a fazer parte do mundo por causa da desobediência humana (Gênesis 3:17-19). Ainda assim, mesmo em meio ao juízo, Deus mostra cuidado, preservando a vida e provendo o necessário para que o homem vivesse.

A criação continua sendo boa

Esse entendimento também nos ensina a olhar para a criação com respeito, como uma obra originalmente perfeita e boa, que reflete a sabedoria de Deus. Dizer que tudo pertence a Satanás é negar a verdade de Gênesis, onde Deus, após criar todas as coisas, afirma:

“E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1:31 RA).

 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

A ORIGEM DE TUDO - O DIA 4 DA CRIAÇÃO

No quarto dia da criação, Deus formou o sol, a lua e as estrelas. Mas a luz já existia antes deles. De onde vinha essa luz? Neste estudo, veremos como a glória de Deus iluminou a criação desde o princípio e qual o papel dos luzeiros segundo a Bíblia.

14 ¶ Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.  15  E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez.  16  Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas.  17  E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra,  18  para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.  19  Houve tarde e manhã, o quarto dia.

Deus levou um dia inteiro para criar todos os corpos celestes. No quarto dia, Ele criou o sol, a lua, as estrelas, os planetas e todos os demais astros ou corpos celestes.

Ainda nesta sequência de estudos, abordaremos o polêmico tema envolvendo o tempo da criação. Será que cada dia representava um período de mil anos? Será que eram eras longas, e a linguagem usada foi apenas uma forma didática de resumir a criação para o nosso entendimento humano? Ou será que Deus criou tudo literalmente em sete dias? Esse tema será explorado em outro estudo.

Mas note algo curioso: no primeiro dia da criação, antes que qualquer corpo celeste existisse, ou melhor, antes mesmo de o sol ter sido criado, já havia luz. Deus disse:

“Haja luz. E houve luz.” (Gênesis 1:3, RA)

A luz foi criada no início, e ela não depende do sol para existir. Por isso, é possível haver luz mesmo à noite com o uso de lâmpadas. Antes da criação dos luzeiros, era a própria glória de Deus que iluminava a terra.

Essa luz que surgiu no início era real, física, visível e eficaz, suficiente para haver “tarde e manhã” (Gênesis 1:5). Ela foi criada diretamente pela Palavra de Deus e separada das trevas (Gênesis 1:4). Essa separação estabeleceu o ciclo de dia e noite, mesmo antes da criação do sol e da lua.

Portanto, já havia luz antes dos luzeiros serem criados, o que prova que a luz não depende do sol para existir.

A Glória de Deus como Fonte Inicial de Luz

Se a luz existia antes do sol e da lua, o que a sustentava? A Escritura não afirma diretamente, mas há uma forte indicação de que a luz criada no primeiro dia era uma manifestação da glória de Deus, que encheu e iluminou a criação.

Assim como Apocalipse 21:23 descreve a Nova Jerusalém:

“A cidade não precisa nem do sol nem da lua para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada.”

E Apocalipse 22:5 reforça:

“Ali não haverá mais noite... porque o Senhor Deus brilhará sobre eles...”

Essa luz gloriosa é suficiente para iluminar, sustentar e dar vida. Antes dos luzeiros, a luz vinha diretamente de Deus, de sua presença gloriosa e ativa no ato criador. A terra, portanto, não estava no escuro até o quarto dia, mas era iluminada pela luz criada no primeiro dia, cuja fonte última era o próprio Deus.

Os Luzeiros Criados no Quarto Dia

No quarto dia, Deus criou o sol, a lua e as estrelas (Gênesis 1:16-19). Eles não criaram a luz, mas foram designados para governá-la, ou seja, passaram a regular e organizar o tempo, marcando dias, anos e estações. Eles também passaram a alumiar a terra de forma contínua e regular, como instrumentos do Criador.

Mas, é importante lembrar: eles não foram a origem da luz, apenas passaram a conduzi-la com ordem e constância.

A Luz Não Depende do Sol

Esse ponto é essencial: a luz existe independentemente do sol e da lua, assim como hoje podemos ter luz à noite com a ajuda de lâmpadas. Essa realidade nos ajuda a compreender que Deus é a verdadeira fonte da luz, e que os luzeiros foram criados apenas como meios secundários, com a função de governar a luz, marcar o tempo e alumiar a terra (Gênesis 1:14-15).

O próprio fato de já haver “tarde e manhã” nos três primeiros dias da criação (antes do quarto dia) prova que a terra já estava iluminada, mesmo sem os astros. E mais do que isso: o próprio percurso do tempo já existia. Ou seja, os ciclos de “tarde e manhã” indicam que o tempo já transcorria normalmente, como um período completo de 24 horas, mesmo sem o sol e a lua.

É como um relógio: ele não cria o tempo, apenas o mede. Mesmo que esse medidor não exista, o tempo continua a passar. Da mesma forma, o sol e a lua não criam o tempo, apenas o regulam. O tempo e a luz são sustentados pela ordem e poder da Palavra de Deus, desde o princípio.

Josué e a Soberania sobre os Luzeiros

Alguns poderiam pensar que o episódio em que Josué pede para que o sol e a lua parem durante a batalha contradiz a ideia de que os luzeiros apenas governam o tempo e não são a fonte da luz. No entanto, esse evento, na verdade, confirma ainda mais a soberania de Deus.

Durante a batalha contra os amorreus, Josué orou:

“Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou...” (Josué 10:12-13, RA).

Essa narrativa é descritiva, do ponto de vista humano (observacional), e mostra um milagre: Deus interrompeu o movimento dos luzeiros e prolongou a luz do dia, mostrando que eles obedecem à voz do Criador.

“E o sol se deteve... quase um dia inteiro.” (Josué 10:13, RA)

“Não houve dia semelhante a este... porque o Senhor pelejava por Israel.” (Josué 10:14, RA)

Isso mostra que o poder de regência dos luzeiros está debaixo da autoridade de Deus. Sendo o sol e a lua os astros que governam o dia e a noite (Gênesis 1:16-18, RA), eles obedeceram à voz do Criador. Deus, que estabeleceu sua função de marcar o tempo, suspendeu essa ordem natural temporariamente para cumprir Seu propósito.

A verdade é que, após Deus criar o sol e a lua, são eles que passam a governar o dia e a noite, são eles que passam a iluminar a terra, como que por um tempo. Pois, quando tudo for restabelecido, como vimos anteriormente, a glória de Deus é que iluminará a nova Jerusalém, e Jesus será a lâmpada que nos fará enxergar, mesmo sem sol, como foi no princípio, onde Deus manifestou a sua luz para iniciar a criação antes mesmo de os luzeiros serem criados (Apocalipse 21:23; Gênesis 1:3-5, RA).

A Luz e a Pessoa de Cristo

Alguns estudiosos sugerem que a luz criada por Deus no primeiro dia (Gênesis 1:3-5) seria o próprio Jesus Cristo. No entanto, essa interpretação deve ser avaliada com cuidado à luz das Escrituras.

A Bíblia afirma que o Filho é eterno e não criado:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (João 1:1-3, RA)

“Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra... tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas.” (Colossenses 1:16-17, RA)

Logo, a luz criada no primeiro dia não pode ser o próprio Cristo, pois Cristo é o Criador, não uma criatura.

Contudo, essa luz reflete o caráter de Deus: ela traz ordem, clareza e propósito à criação, contrastando com as trevas e o caos iniciais. Assim, a luz criada é material e temporal, enquanto Jesus é eterno e espiritual. Mas há uma conexão simbólica importante.

Jesus declarou:

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário, terá a luz da vida.” (João 8:12, RA)

E também:

“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” (João 1:4-5, RA)

Essas afirmações mostram que Cristo é a verdadeira luz espiritual, que ilumina o entendimento, dá vida e conduz à salvação. Portanto, embora a luz do primeiro dia não seja o próprio Cristo, ela aponta para Ele: assim como muitos elementos na criação prefiguram verdades maiores reveladas plenamente em Jesus.

Em Apocalipse, vemos essa realidade consumada (Apocalipse 21:23), ou seja, no princípio, Deus criou a luz para iniciar a criação; no fim, a luz será o próprio Cristo glorificado: não uma luz criada, mas a manifestação eterna da glória divina.

Conclusão

Quando Deus disse “Haja luz”, criou a luz física e visível, independente de qualquer corpo celeste. Os luzeiros, criados no quarto dia, passaram a regular o tempo e iluminar a terra de forma constante, mas não eram e nunca foram a fonte primordial da luz.

Essa luz primeira possivelmente era a glória do próprio Deus iluminando a criação, e isso aponta para uma realidade futura: o mundo novo, sem sol nem lua, onde a luz será o próprio Senhor.

“Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus...” (Hebreus 11:3)

A ciência pode explicar o comportamento da luz, mas a Bíblia revela sua origem: a Palavra criadora de Deus. A verdadeira fonte da luz é o Senhor: ontem, hoje e eternamente.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

A ORIGEM DE TUDO - O DIA 3 DA CRIAÇÃO

No relato da criação descrito em Gênesis 1, cada dia marca um avanço na organização e preparação da terra para abrigar a vida. Após separar a luz das trevas no primeiro dia, e ordenar a formação da expansão (o firmamento) no segundo, o terceiro dia se destaca como um ponto de grande transformação. Deus agora intervém diretamente na configuração física do planeta, reunindo as águas num só lugar e fazendo com que a porção seca apareça. Este ato marca o surgimento da terra firme e dos mares, conforme Seu comando soberano.

Mas o terceiro dia não se encerra com essa separação. Ele se desdobra com uma nova ordem divina: que a terra produza vegetação: relva, ervas que deem sementes e árvores frutíferas. Assim, o Criador estabelece um sistema natural autossustentável, com espécies capazes de se multiplicar e manter o equilíbrio da vida futura. Tudo ocorre com ordem, precisão e propósito, preparando o cenário para os seres vivos que ainda seriam criados.

Este estudo aprofunda os eventos do terceiro dia da criação, revelando como Deus formou o relevo da terra, organizou os mares e estabeleceu a vegetação, destacando a sabedoria, o poder e a intencionalidade divina em cada detalhe da criação. Ao examinarmos esse momento, percebemos que nada foi feito ao acaso: cada elemento criado servirá de base para os próximos atos do Deus Criador.

9 ¶ Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez.  10  À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom. 

Neste terceiro dia da criação, Deus dá continuidade à organização da terra, que havia sido criada no princípio (Gênesis 1:1), mas ainda estava coberta pelas águas (Gênesis 1:2). Agora, Deus ordena: "Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca". Essa ordem divina resultou na separação clara entre a parte seca, chamada "Terra", e os grandes ajuntamentos de água, chamados "Mares".

A terra, que até então estava encoberta, é revelada pela retirada ou deslocamento das águas. É possível compreender que Deus não apenas revelou a terra, mas também agiu de maneira sobrenatural, elevando os terrenos secos ou rebaixando os vales, moldando assim o relevo terrestre.

Essa compreensão é reforçada por uma bela descrição poética no Salmo 104:6-8, que diz:

“Com o abismo, como com um vestido, a cobriste; as águas ficaram acima das montanhas. À tua repreensão fugiram, à voz do teu trovão bateram em retirada. Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes determinaste.” (Salmos 104:6-8, ARA)

Esse texto salmístico sugere que a ação de Deus envolveu o levantamento de montanhas e o rebaixamento de vales, para que as águas se acomodassem nos limites que Ele mesmo determinou. Assim, Deus não apenas separou, mas também deu forma ao relevo, preparando o ambiente ideal para a vida.

Ao final desse ato criativo, Deus vê que tudo “era bom”. Isso revela que a criação está sendo feita com ordem, propósito e perfeição. Nada é aleatório, cada etapa prepara o caminho para a próxima. O aparecimento da terra seca será fundamental, pois é nela que, no mesmo terceiro dia, Deus fará brotar a vegetação.

11  E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez.  12  A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.  13  Houve tarde e manhã, o terceiro dia.

Ainda no terceiro dia, após Deus organizar os mares e revelar a porção seca da terra, Ele dá um passo essencial na preparação do planeta para a vida: ordena que a terra produza vegetação, relva, ervas que deem sementes e árvores frutíferas.

Essa sequência mostra claramente que a criação é ordenada e intencional. Deus não cria de forma improvisada ou experimental, como quem diz: "vamos ver no que vai dar". Pelo contrário, há um plano bem definido e cada etapa cumpre um propósito específico. Antes de formar os animais ou o ser humano, Deus cria o alimento necessário para sua subsistência. Ele prepara primeiro o ambiente e os recursos, depois os seres que dele dependerão.

A vegetação surge segundo suas espécies, com sementes em si mesmas, o que demonstra um sistema completo de reprodução e continuidade. Essa diversidade, “segundo a sua espécie”, aparece repetidamente no texto e revela a perfeição da ordem natural criada por Deus, sem confusão nem desordem.

Portanto, no terceiro dia da criação:

  • Deus reúne as águas debaixo dos céus num só lugar;
  • A porção seca aparece, revelada ou elevada pela ação divina;
  • À parte seca Deus dá o nome de Terra, e às águas ajuntadas, Mares;
  • Deus ordena que a terra produza vegetação: relva, ervas com sementes e árvores frutíferas, cada uma segundo a sua espécie;
  • Tudo isso acontece com ordem, propósito e sabedoria, e Deus contempla Sua obra e vê que é boa.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A ORIGEM DE TUDO - O DIA 1 E 2 DA CRIAÇÃO

Ao abrirmos as primeiras páginas da Bíblia, somos imediatamente levados ao início de tudo: à origem do universo, da terra e da própria história humana. O livro de Gênesis não começa com explicações científicas ou filosóficas, mas com uma declaração poderosa e definitiva:

“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1).

Esse versículo não apenas apresenta Deus como o Criador de todas as coisas, mas também nos introduz a um relato repleto de propósito, ordem e significado.

O objetivo deste estudo é mergulhar nos dois primeiros dias da criação descritos em Gênesis 1. Observaremos como Deus, por Sua palavra e poder, dá início à formação do universo, transformando o caos em ordem, a escuridão em luz, o vazio em estrutura. Esses primeiros atos revelam verdades profundas sobre o caráter de Deus, Sua soberania, e Sua natureza triúna, Pai, Filho e Espírito Santo, agindo em perfeita unidade desde o princípio.

Além disso, exploraremos como esses eventos se relacionam com outras passagens das Escrituras, mostrando a harmonia entre o Antigo e o Novo Testamento, e destacando que Jesus, o Verbo eterno, estava presente e ativo na criação. Ao compreendermos os dias iniciais da criação, não apenas reconhecemos a origem do mundo físico, mas também somos levados a refletir sobre o plano divino que culminaria na redenção por meio de Cristo, a verdadeira luz que veio ao mundo.

Que este estudo nos ajude a contemplar com reverência o Deus Criador e a perceber que, desde o princípio, tudo foi feito com propósito, ordem e glória.

O dia 1 e 2 da criação

“1 ¶ No princípio, criou Deus os céus e a terra.  2  A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.

Neste trecho, tem início o relato da criação. Observa-se que Deus criou "os céus" (no plural) e "a terra", indicando não apenas o universo físico visível, mas também as regiões celestiais invisíveis ao olhar humano, incluindo a dimensão espiritual, como vimos em Colossenses 1:16:

“porque, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis…”).

Logo após essa criação inicial, a terra ainda estava "sem forma e vazia", um estado desordenado e inabitável. Nesse cenário, vemos uma clara referência à Trindade já no princípio da criação: Deus está criando (o Pai), e o Espírito de Deus está presente, pairando sobre as águas. Essa presença ativa do Espírito indica que Ele é uma pessoa distinta, mas plenamente divino (Salmos 104:30).

Embora o texto de Gênesis não mencione explicitamente o Filho, o Novo Testamento esclarece que o próprio Jesus, o Verbo, estava presente na criação:

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3)

“Pois, nele, foram criadas todas as coisas...” (Colossenses 1:16)

Assim, já nos primeiros versículos da Bíblia, percebemos a atuação conjunta do Deus Triúno: o Pai que ordena, o Filho por meio de quem tudo é criado, e o Espírito que dá forma e sustenta.

3 ¶ Disse Deus: Haja luz; e houve luz.  4  E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.  5  Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.

Essa luz surgiu antes da criação do sol, da lua e das estrelas, que só foram feitos no quarto dia (Gênesis 1:14-19). Portanto, essa luz não dependia de corpos celestes e representa uma manifestação direta da ordem de Deus. É uma luz criada, física, essencial para o início da organização do universo.

Ao separar a luz das trevas (Gênesis 1:4), Deus estabelece também um princípio simbólico que aparece ao longo de toda a Escritura: a luz como símbolo do bem, da verdade, da presença de Deus, e as trevas como símbolo do mal, da ignorância e da separação de Deus.

Embora a Bíblia diga que Jesus é a Luz do mundo, não quer dizer que essa luz criada era Ele, isso se refere à luz espiritual e eterna, e não à luz física criada em Gênesis 1:

“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” (João 1:4-5)

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12)

Portanto, Jesus não foi criado nessa ocasião. Ele já existia eternamente com o Pai e o Espírito Santo, como parte da Trindade. Ele não é criatura, mas Criador:

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (João 1:3)

“Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra... tudo foi criado por meio dele e para ele.” (Colossenses 1:16)

A luz criada em Gênesis 1:3 é uma criação física essencial no primeiro ato da organização do universo. Já Jesus Cristo, chamado de “luz do mundo”, é eterno, não criado, e estava ativo na criação, como o agente por meio do qual Deus fez todas as coisas (Hebreus 1:2-3). Ele é a luz espiritual que liberta o homem das trevas do pecado e o reconcilia com Deus.

6 ¶ E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas.  7  Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez.  8  E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.

Neste segundo dia da criação, Deus ordena que haja um firmamento no meio das águas, criando uma separação entre as “águas de cima” e as “águas de baixo”. O termo “firmamento”, do hebraico raqia, pode ser entendido como uma expansão ou uma vasta extensão, aquilo que hoje chamamos de céu visível, ou atmosfera.

Ao fazer essa separação, Deus organiza o caos descrito no versículo 2, onde "a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo...”.  Agora, Ele começa a dar forma e ordem à criação, separando as águas e criando o espaço que chamamos de céu.

A água que ficou abaixo do firmamento formaria os mares, lagos e rios; a água que ficou acima do firmamento é interpretada por muitos estudiosos como uma camada de vapor ou um reservatório celestial, algo que foi "rompido" posteriormente no dilúvio (Gênesis 7:11).

É importante destacar que, no primeiro dia, Deus já havia criado "os céus e a terra" (Gênesis 1:1). A expressão "céus", nesse contexto, pode se referir aos céus celestiais, o mundo espiritual, onde habita Deus e onde existem os seres celestiais (Salmos 148:2-5; Colossenses 1:16). Já no segundo dia, o "firmamento" chamado de "céus" diz respeito ao céu físico, visível aos nossos olhos, aquele onde vemos as nuvens e o espaço onde posteriormente foram colocados o sol, a lua e as estrelas (Gênesis 1:14-19).

Portanto, podemos entender que:

  • No primeiro dia, Deus criou os céus (em sentido mais amplo e espiritual) e a terra de forma geral.
  • No segundo dia, Deus organizou a criação ao formar o firmamento, ou céu atmosférico, separando as águas e preparando o ambiente terrestre.

Esse ato de separação revela o caráter de ordem e propósito na criação divina. Nada foi feito ao acaso; tudo segue uma progressão lógica e funcional para sustentar a vida que viria a ser criada nos dias seguintes.

 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Declarar, Profetizar e Decretar: Fé Verdadeira ou Ilusão Espiritual?

Introdução: A prática comum de “declarar” bênçãos

É comum ouvirmos frases como: ‘Eu decreto minha vitória!’ ou ‘Eu profetizo bênçãos sobre minha casa!’. Muitos cristãos acreditam que podem mudar realidades com a palavra falada. Mas será que a Bíblia realmente ensina isso? Ou estamos diante de uma crença perigosa disfarçada de fé?

Essas expressões são muitas vezes fundamentadas na ideia de que nossas palavras têm poder espiritual criador, assim como as palavras de Deus na criação. A lógica é: “Se fomos feitos à imagem de Deus e Ele criou tudo com palavras, também podemos criar com a nossa boca.”

Mas o que a Bíblia realmente ensina sobre isso? Podemos decretar e determinar bênçãos com nossa palavra? Existe base bíblica legítima para essa prática? Ou será que estamos diante de um erro perigoso disfarçado de fé?

1.    A origem da prática de "declarar" e "decretar" bênçãos

A prática de declarar ou decretar bênçãos com autoridade não vem da Bíblia nem da Igreja Primitiva. Ela surgiu no século XX com E. W. Kenyon e foi popularizada por Kenneth Hagin, no movimento chamado Palavra da Fé. Influenciados por ideias do Novo Pensamento, esses líderes passaram a ensinar que palavras têm poder espiritual criador.

No Brasil, essa doutrina chegou com o neopentecostalismo, especialmente com a Igreja Universal e a Igreja da Graça, espalhando-se depois por músicas, mídias e até igrejas tradicionais.

A teologia reformada e bíblica critica essa prática por colocar o homem no centro, distorcer textos bíblicos e prometer o que Deus não prometeu. A fé bíblica não declara o futuro com palavras de poder, mas confia humildemente na soberania de Deus.

2.    A base bíblica usada por quem defende o “poder da palavra”

A principal inspiração vem de Gênesis 1:

“Disse Deus: Haja luz; e houve luz.” (Gênesis 1:3)

“E disse Deus: Haja firmamento...” (Gênesis 1:6)

“Disse também Deus: Produza a terra relva...” (Gênesis 1:11)

Vemos essa repetição de “disse Deus” em praticamente toda a obra criadora. Isso mostra que a palavra de Deus tem poder criador, imediato, absoluto e soberano.

Com isso, afirma-se que, se Deus criou com a palavra e somos Sua imagem, também podemos criar com a nossa fala.

Mas há um grande erro aqui:

O poder criador da palavra é exclusivo de Deus, não é compartilhado com os homens.

Fomos criados à imagem moral e espiritual de Deus: com capacidade de relacionamento, criatividade, domínio sobre tudo o que foi criado e responsabilidade sobre os mesmos, mas não com Seus atributos divinos, como a onipotência, onisciência, onipresença ou a capacidade de criar realidades do nada com a fala.

3.    A verdade por trás do poder criador: Jesus Cristo é a Palavra

A Bíblia explica que a Palavra que criou tudo no princípio era o próprio Cristo:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1)

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (João 1:3)

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (João 1:14)

A palavra “Verbo” (em grego: Logos) significa mais do que fala: é a ação criadora de Deus, a expressão de Sua vontade, o agente por meio do qual tudo foi feito.

Cristo é a Palavra que sai da boca do Pai e realiza tudo conforme a Sua vontade. Ele é o poder criador e não há nenhum versículo dizendo que esse poder foi transferido aos homens para usarem conforme sua própria vontade.

A Bíblia mostra que somente Deus chama à existência as coisas que não existem (Romanos 4:17).

Ser a imagem e semelhança de Deus não nos concede atributos divinos como a onipotência, onipresença, ou o poder criador absoluto, apenas Cristo é a imagem real de Deus, somente Ele é como Deus.

Conclusão: Não somos pequenos deuses com poder de criar realidades. Somos servos chamados a crer, confiar e obedecer.

4.    O risco de colocar o homem no centro

A ideia de que podemos declarar ou decretar vitórias, conquistas ou curas parte do pressuposto de que o poder está em nossa fala, e não mais nas mãos de Deus. Essa doutrina dá ao homem o papel de "ativar" a bênção, como se Deus apenas reagisse às declarações humanas. Essa crença conduz a uma teologia centrada no homem, não em Deus.

“Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá.” (Provérbios 19:21)

“Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mateus 6:10)

Quando o cristão acredita que pode “criar” ou “chamar à existência” bênçãos com sua fala, está tomando para si um atributo exclusivo de Deus:

“... o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem.” (Romanos 4:17)

Esse poder não foi dado ao homem. Colocar a confiança em suas próprias palavras em vez da vontade de Deus é um tipo sutil de idolatria, onde o próprio “eu” toma o trono.

Logo, a crença de que “minhas palavras determinam minha realidade” é uma forma sutil de idolatria, pois:

  • Tira o controle de Deus;
  • Dá ao homem o “poder criador”;
  • Faz Deus parecer um servo que realiza nossos decretos.

Deus não nos deu autoridade para criar realidades com a fala: nos deu o privilégio de orar, confiar e obedecer.

5.    E os textos que parecem dar apoio?

Algumas passagens são usadas fora de contexto:

a) Josué e o sol parado (Josué 10:12-14)

Josué ordena que o sol e a lua parem, e Deus atende sua voz.

Mas esse é um ato milagroso e único, registrado como exceção, e não como modelo para ser repetido. O texto deixa claro: “nunca houve dia como aquele... em que o Senhor ouviu assim a voz de um homem.” (v.14)

b) Jesus e a figueira (Marcos 11:12-14, 20-24)

Jesus amaldiçoa a figueira, e ela seca. Depois diz:

“Qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar... e crer que se fará o que diz, assim será.” (Marcos 11:23)

Esse ensino é sobre ter fé verdadeira em Deus, não na palavra humana. Jesus não ensina que qualquer um pode sair por aí decretando coisas. Ele ensina que, quando oramos com fé em Deus, sem duvidar, Ele pode fazer o impossível.

Além disso, a ação de Jesus é única porque Ele é Deus. A maldição à figueira é uma lição viva sobre a improdutividade espiritual de Israel, e não um exemplo de que palavras humanas têm poder criador.

c) Provérbios 18:21 – A morte e a vida estão no poder da língua

Esse versículo é usado para justificar a ideia de que a boca “tem poder espiritual criador”:

“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.” (Provérbios 18:21)

Mas esse provérbio trata do impacto das palavras no convívio humano. Nossas palavras podem:

  • Edificar ou destruir relacionamentos
  • Levar alguém à verdade ou ao engano
  • Levar à paz ou ao conflito

Ou seja, a língua tem poder moral e relacional, não poder criador espiritual como a de Deus.

6.    Devemos declarar como se já tivéssemos recebido?

Essa dúvida é comum diante de textos como:

“A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” (Hebreus 11:1)

“Crê que o recebestes, e será assim convosco.” (Marcos 11:24)

Mas atenção:

  • A fé não é fingimento, nem “afirmação positiva”.
  • Não é declarar como se tivesse acontecido: é crer que Deus pode fazer no tempo e forma certos.

Exemplo: Abraão creu, mas não saiu dizendo que Isaque já tinha nascido. Ele confiou em Deus e esperou.

7.    Jesus condena o uso presunçoso das palavras para garantir o futuro

Em Mateus 5:33–37, Jesus confronta diretamente a prática dos juramentos, onde as pessoas tentavam dar peso e autoridade às suas palavras para garantir que algo iria acontecer, mesmo sem ter controle sobre isso.

Ele diz:

“De modo nenhum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés... Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto um só cabelo.” (Mateus 5:34–36)

Jesus está, na verdade, condenando a presunção de que podemos assegurar com nossas palavras aquilo que apenas Deus pode realizar. Os judeus da época usavam expressões como:

  • “Juro pelo céu que farei isso...”
  • “Pela minha cabeça, vai acontecer...”
  • “Eu determino que vai acontecer...”

Essas frases eram tentativas de conferir força espiritual e autoridade pessoal às promessas, o que frequentemente resultava em hipocrisia, manipulação e autoengano.

Jesus então nos lembra: não controlamos nem os pequenos detalhes da vida, quanto mais os desígnios espirituais ou o futuro. Isso desmonta completamente a ideia moderna de “decretar” curas, bênçãos, prosperidade, ou qualquer outra coisa, como se o poder estivesse na palavra humana.

“Seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não. O que passar disso vem do maligno.” (Mateus 5:37)

Jesus nos ensina, portanto, a falar com simplicidade, verdade e humildade, reconhecendo nossa total dependência da vontade de Deus.

8.    Palavras que têm valor aos olhos de Deus

A Bíblia ensina que Deus ouve a oração sincera, a confissão de fé e a declaração de confiança nEle, mas sempre de acordo com Sua vontade:

“Esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5:14)

Até mesmo Jesus, ao ensinar sobre fé, nos mostrou que a confiança verdadeira não é em palavras, mas em Deus:

“Tende fé em Deus. [...] Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.” (Marcos 11:22-24)

Repare que o foco está em Deus e na oração, não em "decretar" algo por conta própria.

9.    A confissão positiva pode ser benéfica?

Sim, se for equilibrada e bíblica:

Quando é saudável:

  • Confessar verdades bíblicas:

“Tudo posso naquele que me fortalece.” (Fp 4:13)

“O Senhor é o meu pastor.” (Sl 23:1)

  • Expressar esperança e fé em Deus:

“Ainda que a figueira não floresça... eu me alegrarei no Senhor.” (Hc 3:17-18)

Quando se torna perigosa:

  • Quando transforma desejo pessoal em decreto autoritativo.
  • Quando finge realidade para “ativar fé”.
  • Quando ignora a soberania de Deus.
  • Quando gera frustração e culpa se não acontecer.

Reflita sobre o texto em Tiago 4:15: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.”. A chave está em confiar em Deus e em Sua vontade de permitir ou não.

10.                Outros exemplos bíblicos mal interpretados

Texto

Interpretação correta

Ezequiel 37

O profeta só fala o que Deus mandou.

Romanos 4:17

É Deus, não Abraão, que chama à existência.

Provérbios 6:2

Trata de promessas e compromissos imprudentes.

11.                O que a Bíblia realmente ensina sobre confissão de fé

Devemos confessar com fé, mas com base nas promessas de Deus, não em desejos humanos. A verdadeira confissão bíblica:

Bíblica

Não bíblica

“Confio que Deus proverá.”

“Eu decreto que já tenho.”

“Sou salvo porque creio em Cristo.”

“Sou próspero porque profetizei.”

“Sou forte, pois Deus me fortalece.”

“Sou forte porque eu determinei.”

“Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor [...] serás salvo.” (Romanos 10:9)

Quais palavras-chave estão faltando nesse versículo?

A chave é crer no coração. O verso completo diz:

“Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9)

Ou seja, a confissão só é válida se for acompanhada da fé verdadeira no coração. A salvação, segundo a Bíblia, não é apenas uma questão de palavras ditas, mas de fé sincera.

De fato, vemos na Bíblia pessoas sendo salvas, ou seja, recebendo o Espírito Santo, sem sequer terem tempo de confessar publicamente, mas que creram de verdade ao ouvirem a pregação da fé. Isso é evidenciado pela manifestação visível do Espírito Santo, como nas seguintes passagens:

  • Atos 10:44-47 – Quando Pedro pregava na casa de Cornélio:

“Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.”

(Cornélio e sua casa creram e foram imediatamente batizados com o Espírito.)

  • Atos 16:14-15 – Lídia, que creu ao ouvir Paulo, e foi batizada com sua casa.

“O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.”

Esses exemplos demonstram que a fé no coração é essencial e suficiente para a salvação. A confissão verbal surge como consequência natural dessa fé, não como substituto e tampouco como um elemento indispensável em todos os casos.

Além disso, Romanos 10:9 não serve como base para sustentar a ideia de que a "confissão positiva" tem poder de criar realidades. O texto está tratando da confissão de fé em Cristo para a salvação, não de declarações que moldam o futuro ou alteram circunstâncias por meio da palavra falada.

12.                O que realmente traz bênçãos segundo a Bíblia?

A Bíblia mostra claramente o caminho para uma vida abençoada:

1.    Obediência à Palavra

“Se atentamente ouvires [...] todas estas bênçãos virão sobre ti.” (Dt 28:1-2)

2.    Viver pela fé

“O justo viverá por fé.” (Rm 1:17)

3.    Buscar o Reino em primeiro lugar

“Buscai primeiro o Reino...” (Mt 6:33)

4.    Orar segundo a vontade de Deus

“Se pedirmos [...] segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1Jo 5:14)

5.    Esperar com paciência e confiança

“Entrega o teu caminho ao Senhor...” (Sl 37:5)

       6. Submeter-se humildemente a Deus

“Sujeitai-vos, pois, a Deus.” (Tiago 4:7)

Conclusão: Cristo, e não o homem, é o centro

Jesus Cristo é o Verbo, o poder criador, a Palavra que sustenta tudo. Não fomos chamados para criar com palavras, mas para crer, obedecer e orar com fé.

“Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Cl 1:17)

Deus deseja que tenhamos uma fé viva, mas essa fé se expressa em oração, obediência e confiança na vontade do Pai : não em tentativas humanas de controlar o futuro com palavras.

Devemos declarar, sim: a Palavra de Deus, suas promessas, sua verdade. Mas isso é confessar fé, não decretar realidade.

Resumo final: Contrapondo a crença popular com a verdade bíblica

FALSA CRENÇA

VERDADE BÍBLICA

“Minhas palavras criam meu futuro”

“A vontade de Deus determina tudo” (Pv 16:1-3)

“Eu decreto minha bênção”

“Eu oro e confio no Senhor” (Fp 4:6-7)

“Minha fé move tudo”

“Minha fé descansa em Deus” (Sl 37:5)

“Deus me deu poder criador”

“Cristo é o poder de Deus, o Verbo eterno” (Jo 1:1-3)

Frases bíblicas que revelam submissão verdadeira:

“Se o Senhor quiser, viveremos...” (Tiago 4:15)

“Se achar eu graça aos olhos do Senhor...” (2Sm 15:25-26)

“Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?” (Lm 3:37)

“Isso faremos, se Deus permitir.” (Hb 6:3)

Outras: Provérbios 19:21, Atos 18:21, Romanos 1:10, Romanos 15:32, 1 Coríntios 4:19, 1 Coríntios 16:7, Hebreus 6:3

Ensinamento Final

Sim, nossas palavras têm poder moral e relacional, e devemos confessar a Palavra de Deus com fé. Mas só Deus tem poder criador. Podemos pedir, confiar, declarar Sua verdade: mas jamais tentar ocupar o lugar dEle como autores do futuro.

“Nada é impossível para Deus”: e é Ele quem diz: “Haja luz”, “haja cura”, “haja vitória”. A chave não é “fingir” que vai acontecer ou que está acontecendo, não temos poder de criar nada, a chave é orar a Deus, que tem esse poder.

Nossa missão é orar, crer e esperar nEle.

A confissão positiva tem mais poder de te iludir do que de mudar circunstâncias.